quarta-feira, 28 de maio de 2014

Fofocas de buteco.

Nos últimos dias, algumas pessoas se mostraram curiosas em saber se me incomodei com um pequeno parágrafo que me coube no livro publicado por um garoto na busca narrar a rebeldia sem causa da juventude nada assustadora dos anos 90 na Pequena Alegre (da qual fiz parte).
Ao que me diziam, o apelo comercial do livro quereria dar uma ideia de udigrudi drogadito, buscando certa narrativa beat adaptada para a nossa caretinha, medrosa e comportada Porto Alegre. Fiquei surpresa em ser citada, pois eu nunca fui dos grupinhos fantasiados de ingleses ou nova iorquinos ou seja lá o que era. Nunca fui de jogar purpurina em líderes de torcida, tanto que nem fui convidada pra sessão de autógrafos e tal.
Como em geral não tenho na minha biblioteca publicações que nos citem, a não ser quando os autores me presenteiam, pensei em adquirir o livro. Sem tempo, ia ver isto semana que vem e pediria ao autor que o autografasse :)

Até que ontem, uma pessoa bem simpática que me conhece mas eu não o conhecia, como é normal, tocou no assunto sem qualquer ar de fofoca como haviam feito os dois ou três primeiros  curiosos. Talvez porque não é daquele tempo e não reside na província, então era um cara leve que estava de fato curioso com a agressividade do parágrafo, onde eu e o André Arieta somos citados com certa amargura.
Diante da minha surpresa, ele comentou sobre o cuidado do autor em só colocar meu nome inteiro em seu blog, não no livro de papel. Então, sem que eu pedisse, me enviou a reprodução de um pequeno texto agressivamente juvenil, cheio de adjetivos que deixa ver um rancor guardado há tempos, onde figuramos eu e André como duas personagens superficiais e fantasiosas que saíam às ruas em busca de confusão por nada mais interessante a fazer.
Entendi que é um livro de ficção ou seria algo como "licença poética" pra dar um tempero às rotinas de um bar onde jovens se divertiam com a certeza de que faziam o movimento cultural da cidade pegar fogo mais do que no passado e como nunca no futuro.
Jamais fui alguém importante naquele mundo, eu tinha um filho e tinha que trabalhar e ser séria de dia, então duvido que o modelo narrativo degradante seja destinado somente a mim e que minha passagem seja relevante para que o livro funcione. Suponho que a opção pelo documento ficcional também caiba ao grupo de amigos do escritor, só que para eles sobrariam confetes. E pensando bem, se a ideia é descrever um lugar e seus frequentadores pelo olhar de alguém que tava doidão ou para impactar, não dá pra esperar que seja tudo verídico. Já li muitas biografias roquenrou e beatniks e sei que há por aqui uma tentativa de incorporar o estilo, é um tendência.

Enfim, estou aqui divagando, mas não tenho uma opinião muito formada pois me pareceu uma fofoca pra vender blog. Considerei, na verdade, que a mágoa maior é de fato com o André Arieta, algo ferino que começa falando mal de mim mas demonstra a tentativa de agredir a ele.
Hoje, o André coordena uma graduação e uma pós graduação que ele mesmo planejou numa faculdade de cinema em outro Estado e não está nem aí faz horas pras pequenices e najices do udigrudi de vitrine em petite poá. Por isto, não achei que seria o caso de comentar com ele quando nos reunimos logo depois, pelo skype, sobre um novo trabalho. Não me pareceu que se interessaria por alguma fofoca a seu respeito aos 23 anos, mas sim por alguma crítica adulta sobre seu trabalho como um homem de 42.

Achei curiosa a mágoa, pois o mesmo garoto que escreveu o livro a nos repudiar, fez um teste de elenco para um longa do André, rodado entre 2007 e 2009 que, de certo modo, tem o mesmo tema, só que uma proposta mais psicológica, deixando na obra uma clareza de que o meu ex-marido e ainda sócio é um cara bem coerente, que se aprofunda e vai bem em sua carreira, longe daquele pobre coitado descrito no tal livro.
Enfim, o rapaz foi super bem tratado pela equipe do filme do André com direito a ótimas matérias em grandes veículos, um circuito independente legal e etc. O cachê era pequeno, claro. Tínhamos um magérrimo orçamento de 300 mil pra um longa, mas todos super bem tratados, alimentados, motorizados, essas coisas.
Tivemos cenas juntos, laboratórios, ensaios, mas convivi pouco com este escritor ao longo do filme, pois sou super na minha e morava mais pelo Rio que no sul na época. Contudo, eu era muito atuante em 3 departamentos do filme e sabia que esse moço era muito querido e respeitado pelo André, tratado com toda a atenção pelo assistente de direção mesmo quando ele foi um tanto frio com o filme após o lançamento.

Agora, a respeito de mim e do André como jovens nos idos anos 90, nós eramos muito unidos e na nossa banda o "líder" era ele, que compunha e organizava as gravações, cuidava do caixa. Eu ficava responsável pela divulgação, mas não era centro de nada e nem sabíamos sobre tais invejas, pois eramos tri felizes nós e os demais integrantes.
Sobre nosso bar, que era uma produtora também e um espaço de vender zines e demotapes, nós fechávamos bem mais cedo que os outros, então quando saíamos de lá, cansados, nós íamos pra casa ficar com nosso filho pequeno, ou íamos dançar nos bares de amigos e conhecidos (como o lugar que rendeu o tal livro) ou íamos pra outra jornada de trabalho, já que muita gente nos contratava pra gravar em vídeo shows de outras bandas.

De resto, o bar que gerou o tal livro era pra nós um espaço que gostávamos porque ali fizemos shows da nossa banda, eventos de cinema (inclusive uma mostra em homenagem ao ator David Camargo) e lançamentos de um dos zines que a gente publicou por aqueles anos e talvez isto sim fosse uma memória relevante quando se fala da cena naqueles tempos. E, claro, a gente dançava, encontrávamos amigos e gastávamos bastante grana.
Sim, vi barracos, vi meninas rolando a escada em puxões de cabelos, brigas, os donos do bar estressados, mas em nosso espaço, embora menor e mais calmo, também tínhamos momentos complicados, porque nós estávamos trabalhando enquanto os outros se divertiam e, por vezes, bebiam demais.
Nunca fui essa pessoa descrita pelo autor do livro, gruppie a sair em busca de baixarias noturnas. No trabalho, eu já era na época "polêmica" (acho tão tola esta definição) por não puxar o saco de ninguém, defender meus pontos de vista com certo radicalismo, e não temer portas e caras fechadas, como todos sabem inclusive por este blog. Isto me trouxe alguns inimigos, bem como o fato de eu ser muito séria quando estava em nosso bar, porque o espaço tinha sempre exposições e preservar obras em meio a bebedeiras de bar é complicado.

Uma hora eu vou ler todo o livro e a versão blog e descubro se o ranço pessoal é só conosco. A meu ver, deve ser apenas estética, um trejeito literário, por assim dizer e, a princípio, perdoo o blog e o livro.
Cada qual faz a obra que merece e consegue, seja ela para o bairro ou relevante para a história do seu tempo. Cada qual escolhe e aborda o seu tema conforme sua própria ética, por particular lógica de sua memória e pautado pelo seu modo de viver e querer ser útil ou não.
Que venda bastante e ganhe muitos trocados. Vou ali ganhar a vida ;)

Paz e Gentileza \o/
biAh weRTher

domingo, 18 de maio de 2014

Um portfólio

Estamos em meio a mais uma sessão de fotos pra marca DOMA. É sempre bem legal. Buscando garantir personalidade, buscam meu trabalho porque fujo de padrões e tendências. Fico feliz. Assino o site também e algumas peças da identidade visual.
Para a novíssima homepage fiz um repertório com um certo ar de lookbook pra destacar as diversas coleções da marca e resolvi publicar aqui no novo blog, já que ainda não cometi qualquer post que ilustre meus trabalhos mais comerciais :)












terça-feira, 13 de maio de 2014

da minha lixeira

Eu guardo hds e hds de fotos que não valeram nas sessões. Cliques teste,  making of ou apenas detalhes de camarim que ninguém nota mas eu acho legal. Essa é uma delas. A bagunça de cenário em montagem e as pernas da modelo saindo do roupão me dão vontade de enquadrar e pendurar na parede, pois me lembram os climas de trabalho quem participou sabe :)


domingo, 11 de maio de 2014

Germinar

Boa noite, queridas pessoas. Selecionei essa imagem pra o dia das mães do meu blog e na fanpage. É do projeto "Germinar", que ainda está em processo, mas as primeiras fotos fizeram parte da minha última exposição. Retratei a gravidez da atriz Fernanda Carvalho Leite, que agora já é mãe.



quarta-feira, 7 de maio de 2014

Interlúdio

Nos últimos tempos venho sonhando muito contigo. Pena não poder comentar, já que somos dois estranhos. Como poderia chegar pra alguém que mal conheço e sair dizendo:
- Bah, sonhei contigo novamente. Desta feita, estávamos em Paris e eu, insatisfeita como sempre, te pedia por favor, vamos pra Nova Iorque?  Daí você ficava com seu jeito menos ansioso (sim, já conheço até as nossas diferenças de personalidade) me dizendo pra parar de fazer beiço, que sempre sou assim nos primeiros dias quando viajamos, mas depois sou a última a querer voltar pra casa.

Outro dia, num destes sonhos, acordei e fui correndo buscar Jung e até algumas dessas explicações místicas, mágicas, fanáticas que tentam desvendar os sonhos. Nada me pareceu plausível. Científica, empírica, coisa de adivinhos e bruxas, acho sempre uma falácia quando alguém interpreta sonhos.

Sim, ultimamente venho sonhando contigo, mas quando acordo você simplesmente não existe. Ainda assim, já andamos na praia, discutimos sobre uma exposição, jantamos, comentamos livros e filmes, nos perdemos durante festa e senti ciúme, brigamos por bobagem.

Nunca tinha me acontecido de sonhar várias vezes com a mesma pessoa, nem mesmo o Eddie Vedder. Isso de na vida acordada não sabermos nada um do outro e no meu inconsciente estarmos praticamente íntimos. Alguém garantiu que, por certo, fomos amigos ou inimigos em alguma vida passada. Ai gente, por favor!

Hoje, dormi por mais de 10 horas e acordei curiosa de saber se vou sentir saudade quando, inevitável tal qual acontece na vida real, numa noite dessas cada qual de nós se perder em sonhos outros, outros mundos, pra nunca mais nos encontrarmos.




segunda-feira, 5 de maio de 2014

Pretend

Um vulcão de idéias (com acento) na minha cabeça.
Tento escrever mas parece que há uma mordaça na minha garganta. Gosto muito de lenços, cachecóis, tua camiseta, coisas enroladas no pescoço.
Por estes dias, venho pensando e agindo bem mais do que falando a respeito do nada que nos cerca, sobre o desrespeito, desconfiança, distância, cu-ri-o-si-da-de. E as pessoas que temem e titubeiam? Tomo meu rumo antes de tentar compreendê-las. Me sinto ofendida com as desconfianças, acho tolas.
Passei a noite de ontem fazendo um vídeo manso para a abertura do meu novo sítio. Não sei porque, me inspirei em você, vocês, nós, nossos silêncios maquiados nos sons do vento cibernético. Os temores podem ser barulhentos como estômagos insaciáveis sedentos de gelatina transparente.
Uma névoa ao meu redor, respiro. De falar tenho preguiça, mas sons guturais, gemidos, isso sim me parece o cúmulo da linguagem.
Engraçado... Muito me acontece de não querer papo, de me ausentar das conversas em cafés, nos namoros, nas festas, nos almoços, caminhando na beira do mar. Escrevendo não. Escrevendo eu pareço outra (exceto por estes dias). Tanto que muita gente, quando me conhece de perto, se espanta com minha preguiça de conversa. Devem achar que sou cheia das certezas, sei lá.
Vontade de observar, jogar a cabeça fora, rolar. Viajar. Viajo muito sozinha, sento quieta, bebo um gole de vinho e dou um último suspiro: hora de mim.
A paz da solidão deve ser parecida com o sublime momento da morte. Derradeiro gesto preocupado, último espasmo. Quando fico só em uma multidão de estranhos, a observar toda essa gente, flutuo em direção a mim. Ninguém a me dizer o que devo fazer, ninguém a me perseguir, muito menos a fugir de mim. Nem mesmo eu. Ao contrário, sumir nesse mundo pra, quem sabe, me encontrar. Morrer sozinha, desconhecida, sem focinheira, sem medo, longe de uma certa vontade de saber mais de você.
Meus dedos digitadores inconformados fazem pessoas estranhas e chatas pensarem que sabem tudo sobre mim. Mas, de verdade, tenho apenas preguiça.
Sinto um desânimo nessa distância, como sentiria preguiça de tentar te convencer. Um azedume, um catatonismo, apatia, um mormaço na minha alma, uma pontada de decepção no meu coração. Pronto, preciso um chá de sumiço.
Hoje, a tarde estava linda! Por esses tempos, prefiro o espelho. Vários. Cacos. Voando em busca de mim sem vontade de falar aquilo que não vai resolver nada. Pense você o que bem quiser. Os fazeres, o fazeres, olhares, olhares, garganta, eco.
E a respeito dos dígitos, não sei nada sobre isso.