sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Quanto por pose ou Quem é a retratista?


Hoje, uma cliente estava a consultar meus preços para fazer seus retratos em fotografia e veio a baila mais uma vez uma questão de "mercado". Conheci, especialmente no início das câmeras DSRL, muita gente que comprava uma 5D e uma 60D, tripé e algumas lentes e saía distribuindo cartões como se a câmera fizesse o fotógrafo, apesar de ainda vazios, sem alguma referência, sem se perguntar: O que é fotografia? Quem são os fotógrafos que mais aprecio? Como tudo isso começou? Porque escolhi tais câmeras, porque li em um blog que elas são o bicho e a fotografia digital é uma facilidade que me dará muitos dinheiros?

A minha cliente me repetiu uma pergunta que muitos me fazem sobre "número de poses".
- O máximo é 4 poses né?
- Oi?
- Ah, é que andei pesquisando e tem um número máximo.
- Olha, não sei nada sobre isso!!

Sempre discutirei a serventia desses pactos comerciais renegando-os solenemente. Apenas isto. Fotografia, vídeo, cinema.. Enfim, isso da relação com a lente e com o que-quem está diante dela é de uma complexidade tão fantástica, rica. É como sexo. Eu prefiro tântrico. Tanto que faço a analogia da prostituição quando alguém vende poses e minutos.

Ontem, no almoço de natal, olhávamos retratos de família e pensei nisto, inclusive. 

Quem era o invisível retratista que nossos avós convidavam a passar o dia na estância para registrar a história de uma família. Com qual sensação se produzia aquele momento sublime onde um cara que a gente não conhece a cara ficou incumbido de eternizar a alma daquelas pessoas como clã e como indivíduos para que nós não nascidos, quase cem anos depois possamos mergulhar e nos comunicarmos.
Eles gastavam filmes e filmes e partiam para a pós produção com o poder de quem leva o tempo dentro de uma mágica caixa escura. A verdadeira e única máquina do tempo.

Há um silêncio dentro do fotógrafo, há dois silêncios dentro do retratista e mesmo que o laboratório de hoje seja o photoshop, a caixa mágica ainda é.
E no futuro, não haverá reza forte que consiga tornar eterno o que for superficial. 
Um retrato não é uma pose, um filme não é um ponteiro de relógio. Muitas vezes a gente precisa repetir a cena mas o olhar que se perdeu, nunca mais. 

Em tempos de selfie - ler Isto não é um mamilo -, fotógrafos apressados e consumidores de aparências, discutirmos a complexidade de um retrato é praticamente impossível. Mas eu garanto que você pode cobrar pra fazer uma sessão emocionante sem pensar em "tantos pilas por tantos cliques-tantos dinheiros por tantos minutos". Basta você esquecer que o cliente é um cliente, porque ele não é, mesmo pagando. Quando se escreve uma micro história, quem paga e quem recebe é o que menos importa. Se a fotografia se mantiver viva por muitos anos, tal evento será muito maior que os bolsos.

Acredito em mergulhar no processo pré-produção-pós como se fosse o único. Tirar o máximo e cobrar por tal produção a partir da experiência e não a partir de normas que "todo mundo faz assim", Você não sendo apenas um consumidor dos lançamentos e grenais Canon x Nikon, poderá fazer orçamentos honestos, boas previsões, sem precisar se preocupar com número de poses que o pobre cliente terá que fazer diante da sua lente enquanto você posa de fotógrafo. Aliás, não pose! Fotógrafo é invisível quando está fotografando.

Quero dizer, não padronizar o que o cliente recebe e sim padronizar processos técnicos e de produção vão te liberar pra ser um fotógrafo genuíno.
Alguém me dirá que se eu me dedicar à publicidade não terei tais dramas. Mas sei lá, terei outros. A imagem e a auto-imagem estão em crise, certo? O espelho está fosco. 

De resto, gosto de fotografar natureza, bichos, gente normal, nuvens, insetos, gotas de chuva e ondas do mar. E acho interessante e enriquecedora profissionalmente esta esquizofrenia de fazer fotografia, vídeo e cinema porque um ensina o outro. Você pode misturar tudo no mosaico da livre expressão e não será menos profissional, pelo contrário.

Tenho a sensação de que perder o foco é o caminho se quisermos eternizar momentos que estão muito acima de 4 poses. Inclusive, nos perdendo talvez consigamos nos distinguir. Quem já não viu um instante divino escorrer pelos cílios enquanto perdia tempo trocando a lente? Pois é, uma foto depende de uma relação, conexão. Entre cliente e fotógrafo, quem é o retratista?

biAh weRTher



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

olho mágico

olho dentro de mim. me procuro... há um quarto, um coração, um rim. olho dentro de mim e me chamo. veias e tripas. me encontro no final, embaixo de uma cama, conversando com células, tentando convence-las de algo que não sei.