quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Da caipirisse urbana

Fico com um certo nojo de gente que só agora descobriu que é possível reutilizar água da chuva, só porque a seca tá no jornal da grobo. Há milhões de anos já sabemos fazer isso, nascemos sabendo, saca? E agora os guri velho de apartamento ficam pasmados partilhando tanques azuis com tutorial de como catar gotas, chocados com a criatividade. O quê??? Água não dá no supermercado, em garrafinhas de plástico?
Sinceramente, fico com vergonha do que a gente virou.
Há uns 20 anos várias pessoas que eu conheço já usam placas de energia solar em moradias no Uruguay. No Brasil é menos, mas tem e até a seca em SP eram chamados de loucos. Há décadas, pessoas felizes vem construindo suas próprias moradias, sustentáveis, lindas, organizadas, elaboradas, servindo-se de conhecimentos básicos e óbvios que humanos e não humanos descobriram no começo do mundo. Somam o que já sabemos com novas tecnologias. Não é papo místico construir a casa voltada para o caminho do sol, entende? A isso se dá o nome de economia de energia, E viva a brisa a substituir o ar condicionado, se é que me entende.
Na real, faz anos que a indústria de eletrodomésticos pensa nisso tudo, só que as pessoas que usam tutorial até pra cortar as unhas dos pés, nunca perdem tempo com manuais. Hoje, quase todas as máquinas de lavar já vem preparadas pra facilitar, caso você queira reaproveitar a água.
Há décadas, você abre qualquer revista de arquitetura ou de fofoca mesmo e encontra artigos sobre pessoas que constroem seus lares pensando a luz natural antes da tendencia do sofá sei lá.
Nós somos tão idiotizados, que entregamos o lar nas mãos de construtoras mafiosas, sem qualquer preocupação com qualidade e vamos pro xópin coas crianças brincar de norte americanos dos anos 80.
Construir a própria casa, pensando em sustentabilidade ou, ao menos, ser responsável e não entregar a tarefa pra qualquer fio da mãe que paga propina a prefeitos pra poder construir em áreas que deveriam ser preservadas, deveria ser o normal, certo? Tu já pensou em descobrir o que existia no lugar do teu condomínio de luxo? E se soubesse que a natureza perdeu com a construção, tu moraria ali mesmo assim?
E essa mania de mandar o esgoto da tua casa de praia pro mar não é como não limpar as partes e usar perfume pra disfarçar? Bem, uma hora vai feder.
E não deixar copos plásticos na areia como a família de imbecis que eu vi ontem na beira-mar, a vó, a filha, o genro, o adolescente e o bebê, tadinho, desde cedo aprendendo a ser assassinozinho.
Tudo isso tu já nasce sabendo, assim como não usar mais água do que você precisa só porque você descobriu que é ricaaaa.
Ah, pulamor, parem de fazer ohhh pra tutoriais. Garanto que os nossos bisavós, se estivessem vendo tanta retardadisse estariam fazendo tsctsc.
Mas é que a gente resolveu tacar cimento nos quintais porque folhas fazem sujeira. Aliás, a gente resolveu que a vida é melhor sem quintal, porque árvores trazem bichos e aiiii como a gente morre de medo de bicho.
Olha, macaquinhos recolhem água da chuva em folhas de árvores, qual potes criativos, poesia pura, cena de filme da Disney. Nós, que aleijamos todas as árvores do quintal e não temos as lindas folhas verdes, podemos usar nossos baldinhos cor de rosa Emoticon wink Nem precisa correr pro tumeleiro pra comprar tonéis azuis!
Ok, admito que não tenho paciência pra o que nos tornamos, moradores da casa da Barbie, tronchos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O movimento é sexy.

Sábado ao meio dia tu acorda e eles chegaram, rapidinhos, enlouquecidos em carros cor de rosa tocando tump tump estacionados na beira do mar, assustando as aves, produzindo latinhas de skol e garrafas de vodka waleska oprimindo os ninhos, barulho e orgulho.
Abrem as casas feitas de areia roubada das dunas, apertadas nos micro terrenos dos sonhos, bonitas por fora, sem fossa por dentro, fazedores de córregos fétidos onde saracoteiam suas crianças. Oba! Cocô ao mar. Gritedo e buzinaço na frente da reserva ecológica.
Sábado pela manhã eles chegam olhando o mundo com cara de eu posso, passam por cima de tudo, cavalo de pau, gritaria, cachorrinhos de madame nas coleiras de cristais swarpowiohwiróvski a olhar com nojo e medo pro cachorrinho que eles próprios abandonaram na praia no verão passado.
Mas ufa! Hoje acordamos ao meio dia, algo está em paz no canto dos pássaros e nas ondas do mar. Milagre?
Hoje é segunda! Rapidinhos e torrados de mormaço, eles colocaram tudo cedinho nos carros altos reprodutores de sofrência. Os panos de bunda, as caixas térmicas, conchinhas roubadas e restos de churrasco, o nariz empinado cheio de pomada.
Foram-se, bem loucos, apressados pra bater o ponto.
Agora é esperar que a natureza se restabeleça um tanto até a próxima invasão de produtos eletrônicos coloridos piscantes barulhentos fedorentos lotados de coisinhas e paus de selfie.
Paz.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

BiAhgrafia

Na minha loucura workaholic, organizando a vida pras férias, me veio essa ideia idiota de nem viajar porque né... por aqui, trabalho não se separa de sono, insônia, sexo, febre, jantar, vinho, domingo, segunda, preguiça ou diversão. 
Meu trabalho sobrevive por, pela, para a observação e isso começou muito cedo. Minha primeira memória racional foi, a meu ver, um trabalho. Estava entre pessoas da minha família, caminhando pelo campo, na fazenda, talvez com dois anos de idade. Escutei uma voz feminina, discreta,baixinho a avisar para uma mulher que andava em minha frente, que o zíper de sua saia estava mal fechado.
Era como se tudo ao redor fosse escuro e nublado, embora eu saiba que se tratava de um dia ensolarado. Abriu-se uma espécie de portal entre eu, bebê, e os mínimos detalhes do mundo real. A saia era azul e evasê, um corte bonito na altura dos joelhos. Duas mãos fuçando no zíper. A mulher de saia azul tinha um corpo jovem e delicado, acho que era a minha mãe.
A partir daquele dia, observo tudo, mas quando apresento meu trabalho, NUNCA falo do meu processo usando expressões como "investigação".
"O artista tal investiga não sei o que" é clichê, cacoete de TCC. Entendo e acho até bonitinho, mas não sou uma artista pálida, ensaiada, de vestido limpo, explicando, explicando...
Por isso que, em meu sítio, ainda não subi a minha bio careta, essa dos prêmios, cursos e comprovações exibicionistas reunidas em formato chato padrão que, ao menos pra mim, são como os meninos de 13 anos no banheiro medindo o tamanho do pênis. Um trabalho de artista, a gente conhece quando quer, não quando ele tenta provar que existe, batendo os cílios.
É por isso que talvez exista quem não entende o meu sítio, cheio de salas, quartos, ateliês que a gente vai decorando do jeito como fazem as pessoas que constroem o próprio lar, sujos de tinta, sem precisar contratar um fazedor de moradias em série e um entregador de armários das casas Bahia.
VISITA MINHA PSEUDO BIO!!!

Carta sobre a Felicidade.

Veja a Internet. 
A gente olha ao redor e tem de tudo, da simplicidade à boçalidade - inclusive quem confunda os dois. A bem da verdade, ainda não se arranjou muito espaço pra primeira, pois ser boçal é beeem mais boça.
Há muitos textos pobres defendendo a riqueza e o capital, o que é antigo e ultrapassado, fazendo da web um meio contraditório. Mais ou menos como comprar um livro pela capa. Quanto mais o indivíduo tem o dom de se deslumbrar com esse meio moderno, mais antiquado ele se mostra assim que abre a boca virtual.
Nos temas sociais, por exemplo, o que mais chove são "opiniões" embasadas em homens tolos, bunecrinhos, infantis, serviçais da grande mídia como Reinaldos Azevedos, Alexandres Garcias, Willians Waaks e até esse tal de Pondé.
Fique atento antes de você citar a pseudo filosofança do Pondé, pense no mico. Busque saber o que é filosofia pra não passar vergonha, um dia, quando teu filho crescer. E ser ignorante sem precisar ser, tendo grana pra ler, conhecer e saber, tem seu preço. Pondé filósofo... ora Veja, tsc tsc. Numa coisa ele está certo, e é quando xinga você que o cita mas não o lê e, na sua condição de pavão reclama dele próprio sem nem perceber.
Sim, os xingamentos dele por trás da pose de cognac são justo ao seu típico leitor, que distante de qualquer exercício de lógica argumentativa em sua rotina robótica, pensa que é chique comprar um produto e ser debochado pelo vendedor. Mas bem, como eu duvido que um leitor do Pondé tenha lido mais do que duas de suas frases marqueteiras de efeito, é preciso dizer que quando ele debocha do churrasco na lage e do turista de catedral, ele fala, meu bem, de você. Ahã Emoticon wink E dele, no espelho.
Mas olha, não estou dizendo pra começar a mudar de vida pelo Nietzsche, pois leitores da Veja não seguram nem um parágrafo do Zaratustra sem se defenestrarem desesperados do décimo andar do condomínio. Não, você que quer se libertar da mesmice e trocar alguma selfie da estante virtual por um livro, pode começar pela simplicidade. Ok, isso de ser simples te dói, mas tá na paz... tu resolve na análise.
Pensei, assim de pronto, numa frase bem conhecida do Epicuro, dessas que já virou até para-choque de caminhão e, como você adora frases curtas, ela pode despertar alguma curiosidade:
"Se queres a verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia."
De resto, só te lembra que tens que procurar o significado de filosofia no google, pra saber direitinho que ela não é marca de cerveja, mas de um molho tri bom.
Gentilezas \o/
biAh weRTher