quarta-feira, 29 de abril de 2015

SÓ PRA NÓS DOIS

SÓ PRA NÓS DOIS.
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Você precisa entender por que me tira o sumo e, leve, te agradeço, finjo que não vi.

É que quando olho em torno de mim,

Entre tantos vultos, enxergo a nós no momento em que éramos.

Compreende que o agora não há pra nós dois?

Sim, vejo grandes mãos sorrateiras que tentam tirar de outras o que não se tira.

Porque você pode tomar de alguém suas ideias e o riso.

Você pode clonar uma alma,

Os perdões que ela já distribuiu, mesmo os erros que cometeu, os sucessos ou tropeços.

Você pode levar os papeis e projetos de vida e até sonhos fujões.

Mas você nunca roubará a verdade do princípio, uma, única.

Veja, o primeiro som não tem propriedade, apenas é. Escorre entre os teus dedos sagazes e volta para minhas veias.

E só importa que nós dois, somente nós dois saibamos bem disto.

Você e eu, em silêncio, certos de que nunca decifrará o segredo que me motiva

Simplesmente porque nem eu sei o que me move.

O autentico que há nos passos de outros pés, nos tremores de outras mãos ninguém simula.

Nada do agora poderá transformar o meu amor pelo que fomos

Antes de você ser apenas mais, menos um.

Mãos ao alto!

Vamos, leve tudo e me deixe nua! Iluda-se de que roubou o conteúdo quente do meu coração.

Leve as cópias carimbadas com suas iniciais e as atire com purpurina da mais alta montanha.

O prazer original está nas minhas asas, vai comigo para muito distante da sua multidão.

]bw[

segunda-feira, 27 de abril de 2015

.....

final
mil e um olhos de vidro apertam suas pálpebras diante do sol
caminhos acanhados aqui dentro
mil e dois pares de pernas nada buscam
eu disfarço tu simulas eles fingem
escuto sons entoados pelos meus olhos fechados
meio
sambo sobre o antes, tremo do depois
enjoo desmedido das incógnitas
sonhos entrecortados apneia
eu temo tu receias alguém aguarda
você em mim
os outros são todos um
ninguém
início



terça-feira, 21 de abril de 2015

Goldfish e a Mulher Gavetas

Goldfish e a Mulher Gavetas.

Goldfish e a Mulher Gavetas.

Estava aqui tentando voltar pra o meu projeto Goldfish e entender onde ele se mistura ou não com um outro que se chama Gavetas, um plano de quase música... Não consigo dividi-los, embora o primeiro seja de fotos e vídeo, objetos enterrados e figurinos e o segundo apenas de sons e vozes.
Mas quanto ao tema, não tenho como distingui-las, as duas atividades da memória, essas lembranças sobre gente que passou e nunca mais. Começo romântica mas como não sou saudosista ou porque minha vida não é fácil surge apenas um "ufa! sobrevivi mais um dia". Porque tudo é muito lindo, só que não é. Há muitos perigos, ameaças, humilhações que as meninas não machistas correm e vivências que elas vão levar consigo pro além, secretos guardados em gavetinhas da ínfima existência.
Solta sozinha na vida desde a adolescência, eu vi homens tirando máscaras e algumas delas escondiam mulheres que educam esses homens, todas nós.
Com seis anos eu vi um primeiro olhar de homem sobre mim. Eu era muito pequena, sempre fui, parecia sempre mais nova. Estava com um vestido lindo que eu amava e minha mãe costurou pra mim. Ia a pé pra o sítio de um amigo com uma moça que cuidava de mim. Meu amigo era o Nico e eles plantavam mares de flores onde nós dois brincávamos nas tardes de outono. A minha babá parou a conversar com um rapaz que estava em seu carro vermelho e no meio do papo ele me olhava e comentava que eu ficaria muito gostosa quando crescesse.  Eu só torcia pra sair logo da frente do olhar sinistro daquele jovem playboy.
Quando o primeiro homem me agrediu na rua eu tinha 13 anos, voltando da escola. Era quieta e tímida, adorava ler Garcia Marquez e Erico Veríssimo. Meus seios estavam crescendo, doíam as glândulas, era muito ruim. Ele era um senhor numa conversa animada com um amigo, passou por mim e com a mão enorme apertou-os e disse algo que prefiro esquecer. Me ajoelhei e solucei de dor, os dois se foram rindo muito. Talvez ele tivesse uma filha da minha idade, quem sabe... Isto é um homem, muito prazer.
Mais altos, mais fortes, com as vozes mais graves. Homens, quando resolvem ser o que lhes impõe a educação que trazem de casa, sobre sua superioridade e virilidade - seja lá o que isto quer dizer - podem ir da cordialidade criada nos laboratórios das fábricas de desodorante à frieza de um robô gigante que esmaga um passarinho e olha o líquido que escorre pelos seus dedos de lata. E não estou falando de jogos e DRs entre casais marionetes educados em tutoriais. Falo das profundezas nas nossas relações com irmãos, pais, filhos, maridos, entregadores de pizza, empregados, chefes, motoristas de táxi, porteiros, professores, vizinhos cretinos, médicos e senhores de bengala. Nada nunca está relax quando uma mulher e um homem estão a sós e ela leva no olhar um aviso de que ele não é nada mais naquele momento do que um irmão ou um pai ou um filho, um marido, um entregador de pizza.....
Aprendi que as mulheres que não escolheram ser o passarinho frágil sempre entre a gaiola segura e o esmagamento, passam a ser pisoteadas não por um robô social, mas por uma frente de batalha com quem não se dialoga, porque não há um líder a quem reportar-se mas apenas um milhão de máscaras, um baile de carnaval interminável através do tempo e do espaço. Uns mais estratégicos outros mais selvagens, quando você confronta o estabelecido, você precisa passar de passarinho a fênix sem aviso prévio. E se você quer ter o direito de se distrair com as borboletas pelo caminho, além de anjos da guarda, precisará exercitar a terceira visão.
É aí que eu levo de um modo estanque alguns projetos profundos, porque ainda estou lutando e acabo no meio da confusão apenas tirando uma tola conclusão:
Creio que nunca tive um anjo da guarda, mas um batalhão de anjos que me protegem na dureza que é voltar sempre ao ponto de declinar solenemente disso que chamam conquista, mas é apenas uma competição pela dominação em nome da vaidade. Diante de concursos e da pressa sinto muita preguiça.

www.biahwerther.art/goldfish.html





quinta-feira, 16 de abril de 2015

Sobre o simples


É que pra mim o trabalho, o dom de cada um ao saber fazer melhor isso ou aquilo não é um alimento do ego. Não acredito que temos este ou aquele talento para com ele nos sentirmos mais ou melhores, para nos exibirmos no pódio. A meu ver, o que cada um tem de especial não é pra se destacar e brilhar, mas para trocar e fazer a nossa roda girar. 
Quando você compete e se torna servo do dinheiro, você esquece que a sua função como profissional é dar o que sabe em troca do que não domina.
Antes de ser o mais, o melhor, o primeiro, o mais novo, o mais cheio de neurônios, o mais rápido o mais bonito ou alto ou rico a praticar alguma profissão, você é alguém que tem uma responsabilidade social.
O que nós sabemos só tem valor quando trocamos. Títulos,prêmios, destaques e troféus, pra mim, são criancice se não valerem mais pra os estranhos do que pra nosso orgulho e exibicionismo.
Dinheiro não pode ser o princípio, a motivação para o que sonhamos. Dinheiro como meta não é sonho, é pesadelo.


domingo, 12 de abril de 2015

Porto Alegre alucinante


Domingo.

Uma brasileira, num programa da GNT, mostrando sua moradia na Toscana, natureza intocada e valorizada, em um pedacinho da casa tombada que foi do Américo, aquele que descobriu as Américas.
E daí eu me pergunto o que faço ainda na divisa do bairro Mont Serrat com a Boa Vista, onde as casas antigas com seus belos jardins se transformam em arquitetura-tendência, fria e dura; há 3 quadras de uma das maiores matanças urbanas de aves e árvores promovidas pelo Jose Fortunati e seus eleitores; moradora de um condomínio que, pra não sujar a piscina e não "manchar" o carro de uma ex-modelo cheia de pitis, pagou até multa mas não mudou a decisão de dizimar o perfume de dezenas de árvores. O que faço aqui, colada a uma pracinha bucólica, vítima do ódio, que todas as semanas sofre ataques de moradores do bairro que matam árvores frutíferas e calam pássaros na calada da noite pois acreditam que suas cores ajudam a ocultar bandidos e os monstros da falta de amor nas suas camas.
O que há no coração, com a pobre vida de uma pessoa que sai a noite com um facão em punho, pose de vingador e bate, bate, machuca uma árvore cheia de frutos verdes até que lhe arda as mãos, até vê-la tombar sem vida a seus pés? É neste momento que goza o cidadão de bem? Quem são os marginais perigosos?
Porto Alegre é que tem um jeito legal.