segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Volver

Vou te dar a real. Pra mim, toda a mudança - só não digo a "salvação" porque podem confundir com religião -, toda a solução, saída para a humanidade está na morte urgente da atual representação da mãe. 
Te pegam pela vaidade, mentem que tu é sagrada e tu vai para a prisão obediente, achando lindo gerar, parir, doutrinar e perpetuar gerações e gerações de fascistas.
Eu não caio nessa e, como toda a mulher que deixou vazio o seu relicário, sofro os açoites no meu microcosmo social. Ainda assim, eu defendo a Revolução das Mães porque a redoma, longe do aparente conforto, é um campo minado, é a arma secreta que guardam no teu útero.
Até os revolucionários pops da história, da ficção, da mitologia tem medo de tocar na personagem mãe.
A mãe é aquela que ora e cuida das meias, divide meninos e meninas, esconde as armas, faz cara de santa, finge que não vê, supre a larica dos rebeldes.e dos comportados e reza, e reza, e chama a Nossa Senhora e teme os trovões e sente culpa.
Mas se você não aceita o papel inventado pra te usar como a principal arma dos desmandos humanos, se você grita não para a figura da intocada inviolável doce, você muda o mundo.
Quando a mãe não quiser mais ser a assexuada, as constituições familiares sem figura feminina deixarão de ser incriminadas pelos senhores e senhoras cretinas.
E quando as mães não aceitarem repetir as ladainhas da criação caucasiana, os meninos vão crescer com valores mais humanos.
E quando as mães negarem os filhos como propriedade e pararem de ligar pra eles a perguntar bobagens infantis, mas exigirem ser vistas como pessoas normais pelos mesmos filhos, haverá um fim para a desigualdade.
Aliás, vou além! Eu aboliria o resumo Mãe e diria que todas as mulheres que são mães deveriam se revoltar por perderem seu nome e identidade após terem filhos.
Porque nada deixa uma mulher mais sem entranhas do que o terrível momento em que acorda e vê que todos ao seu redor a chamam de mãe e até ela esqueceu seu nome. Como se fosse uma entidade sem vida própria - já vi maridos chamando as esposas de mãe, que mixórdia é essa?
Porque a família, no sentido paternalista coronelista filhadaputista onde a mãe é eunuca, é apenas um tipo de banco, de imobiliária, de igreja, de máfia.
Eu defendo a revolução das mães porque não é rezando, perdendo a personalidade e mandando botar o casaquinho que vamos fazer nossa parte nessa bagunça. E era isso!

biAhweRTher

domingo, 22 de novembro de 2015

Sei nada não de Bienal do Mercosul.

Antes eu ia e parecia uma circo fuzuê tecnológico visitado por famílias no intervalo da novela dizendo óh. Eu curtia aqui, achava qualquer coisa ali e me via sempre desconfiada da maior parte dos trabalhos porque monitor, bliabláblá muita coisa não me convencia e parecia raso... dava aquela impressão de brinquedo feito por guri de apartamento que tomou nescau bichado na academia, entende?
Depois, uma vez eu participei da exposição de um carioca bem na abertura no Cais do Porto. Eram uns morros de areia, um anão que cavava alguma coisa e eu tinha que fazer uma espécie de performance enquanto filmava usando uma traquitana que eu tive que inventar-montar subindo uma câmera por uma corda e usando uma outra câmera na mão, Fiquei com areia até dentro das calcinhas e não consegui achar muito organizado porque dois dias antes eu fui no quarto do hotel do artista e ele só tinha um papel rabiscado e parecia nao saber direito o que faria. Mas valeu, porque era o barracão dos mais fodas no Cais que agora morre e no mesmo espaço tinha um mineiro amigo meu que ganhou prêmios no festival do livre olhar que eu fazia e outros malucos experimentalistas transmidiáticos,
Me senti em casa porque acho que tem vezes que as pessoas que me ajudam devem ter a impressão de que eu não sei exatamente o que vou fazer, mas eu sei. O artista me pagou uma grana, teve uma emoção e achei as pessoas da organização um pouco estressadas e arrogantes, tive que subir um pouco o tom pra entenderem que eu precisava terminar aquilo na madruga, mas teve atraso. É que naquele ano tinha morrido um eletrecista no Cais durante a montagem e pairava uma tensão no ar, então a montagem da minha câmera - eu, na real, filmava fazendo parte da instalação de abertura de um carioca que chamavam de Cabelo - que precisava de grua, causou uma certa apreensão.
Daí, cansei minha beleza com essa coisa de Bienal porque, sério, me parece que a arte contemporânea é uma repetição de si mesma.


Assinado: A rapariga que não curte tanto circos e bienais.

sábado, 21 de novembro de 2015

O voluntariado e a vaidade.

Desde que comecei a participar voluntariamente de ações sociais, noto que as pessoas costumam querer decidir o engajamento alheio, como se uma luta valesse mais que a outra, quando na verdade deveríamos entender a empatia como um poder coletivo e cada atividade como complemento das demais. Por exemplo, se você luta contra o holocausto animal, você está lutando pelo ser humano também e assim por diante. Você pode fazer fotos denuncia, ajudar a alimentar mendigos, defender a floresta ou manter uma página no facebook. 
Eu escrevo e isto não significa que não me voluntarie há muitos anos em ações práticas tanto na defesa da natureza como das gentes humanas e não humanas. Já resgatei bichos e já ajudei moradores de rua, já fiz vídeos documentais e, conforme posso, vou trabalhando a ponto de muitas vezes não ter grana pra mim - curiosamente, me sinto feliz assim.
Noto que muitas pessoas não admitem o valor do engajamento pela internet na forma de textos críticos, artigos e divulgações, mas eu defendo quem escreve e acho ingênuas as pessoas que consideram de menor importância escrevermos sobre os temas que afligem a humanidade por considerarem que vale mais fazer doações, por exemplo.
Escrever e gerar debate, a meu ver, é uma ação tão importante quanto ir a campo, até porque uma coisa não elimina a outra e, também, não podemos participar in loco de todas as ações sociais.
O que importa é que as lutas se complementem e não façamos do voluntariado uma competição de quem é mais ou menos bonzinho.
Os projetos sociais nos quais me envolvo não são uma vaidade e não são meus - vejo pessoas usando muito expressões como "minha ONG" ou "meu projeto social" - , por isso, como todos os que me seguem estão carecas de saber, só venho a público comentar as lutas das quais participo ou as que lidero quando preciso conseguir ajuda. No mais das vezes, prefiro trabalhar quieta no meu canto, sem fazer propaganda de mim porque se engajar é dever, no meu modesto entender.
Neste sentido, vejo a internet como ferramenta importante que pode e deve ser usada não apenas por quem está efetivamente neste ou naquele grupo voluntário, mas por todo o indivíduo consciente e a favor de um mundo mais humano.
Quero dizer com isto que ler e escrever também são a revolução, senão forem, inclusive, o início dela. Escrever e debater é lutar porque cumpre o árduo papel de conscientizar. Ler e escrever sobre os problemas da nossa sociedade é tão importante quanto dar esmolas, se não for mais fundamental ainda.
biAh weRTher

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

UM MÊS DENTRO DE UM ANO DENTRO DE UMA VIDA DENTRO DE UMA VACA.

Pra quem não me conhece, me apresento. Eu sou uma, sou pequena, nunca quero muito, tenho 1m 60 e 51 kilos, calço 35, não uso maquiagem e nunca coloquei peitos de silicone. Tenho mãos magras e machucadas por conta do tipo de trabalho que faço e amo fazer desde a adolescência. Me sustento, me alimento pouco e gasto pouco, cozinho muito bem, ganho meu dinheiro e divido ele com quem aparecer mesmo que eu não saiba se é verdade que a pessoa não poderia viver se eu não dividisse o que eu consigo. É que eu não me importo, é que dinheiro é uma coisa que as vezes eu tenho e não uma coisa que me tem. A minha carteira não é o centro da minha vida. O centro dos meus dias são o sol, a lua e a chuva. Dizem que eu sou tri bruxa, no mau sentido.
Não quero assustar ninguém sobre a verdade de ser mulher, então vou fazer a conta só do último mês dentro de toda a minha vida.
Durante o meu café, hoje, tentei não fazer os cálculos porque meu coração está cheio de cálculos, pedrinhas dolorosas que não saem no xixi e não tem como resolver com uma microcirurgia a laser; não desmancham apenas porque você estalou os dedos, assim como estala os dedos na hora que quer de mim uma groupie do seu pênis.
Eu sou uma, eu me viro pra viver.
Faz pouco tempo, muito pouco que eu entendi que não devo me deixar levar pelo jogo que define o que é uma mulher. Eu acho que agora, finalmente, aprendi a ser uma mulher.
Faz pouco tempo, muito pouco que eu não deixo você me fazer sentir culpada por ter nascido e me iludir sobre a condição de dependente.
Faz pouco tempo, muito pouco tempo que eu percebi que o que tenho não veio de graça, que eu não lhe devo nada, que não tenho uma eterna dívida com você.
Neste mês, só neste mês contei 6 episódios sérios de agressões masculinas sobre mim, metade delas foi alijamento profissional a outra metade foi pessoal, mas as duas coisas em meu mundo não se dividem. Trabalhar é minha vida como comer, tomar banho e dormir.
Todas as agressões masculinas que sofri nos últimos trinta dias tinham relação, de algum modo, com sexo ou gênero.
Em todos esses episódios você não estava só, você tinha outros homens junto de você. Mas eu não. Eu estava apenas comigo e não contei nada pra ninguém e quando eu lhe disse que tive vontade de me defender pela lei você declarou que sou louca, sem caráter, má, ingrata. Depois, eu deixei você ver que eu sangrei, então você relaxou e riu de mim. Mil a zero.
No último mês alguém tentou transar comigo mesmo sabendo que eu não queria, uma banda de SP resolveu queimar meu nome porque eu lhes presenteei com meu trabalho mas não poderia colocá-los antes dos meus clientes e "atrasei" os vídeos que fiz de graça.
Um produtor do Rio tentou me excluir de um projeto que, inclusive, era meu, porque não perdoou o meu "Não" íntimo e esteve esperando anos para vingar-se.
Se você é homem ou uma mulher obediente, deve estar pensando:
"Puxa, só com ela acontece tanto machismo!"
Não, não é só comigo. É que eu não sei ver abusos morais e emocionais como algo normal e cotidiano. É que eu não vejo com naturalidade ter que viver em estado de alerta, em guarda. É que quero me distrair e ser feliz sem precisar estar em guerra.
Trabalho com uma maioria de homens e sempre foi assim. Alguns deles procuram fazer projetos comigo para ficar perto e, quem sabe, transar.
A frustração do não os transforma em inimigos, cedo ou tarde.
Os dois piores caras que me causaram momentos traumáticos no trabalho ao longo dos último 30 dias tem o dobro do meu tamanho e poderiam me dar um soco na cara e eu não teria força pra revidar. Mas eles optaram por juntar-se com outros e praticar um alijamento profissional sistemático. É que um soco na cara a gente cura, o abuso moral talvez nunca.
Você tem medo de mim, me parece. Mesmo eu sendo uma e você muitos e você tão certo em seu andar de quem tem mais coisas no meio das pernas.
Faz pouco tempo que eu li sua alma e entendi o que passa. Eu sou uma, eu sou pequena e ainda assim eu te enfrento e isto você, que é tantos, não suporta. Você tem medo de mim. E sabe de uma coisa? Sim, tenha medo. Tenha muito medo de mim porque, você tá certo, eu sou louca.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Zumbilândia Rules

Daí, você se interessa pelos tuítes a respeito da mobilização feminina contra os abusos que sofremos desde pequenas. E você busca ler sobre mais uma pessoa negra que sofre agressões horrorosas nas redes sociais, porque anda meio chocado, a se perguntar quando foi que nos tornamos uma das nações mais preconceituosas, misóginas, xenófobas do planeta globalizado... 
Contudo, qual não é a sua surpresa, vergonha mesmo dessa nossa geração de adultos infantilizados, consumidores de coisinhas, quando descobre homens-pais de família-coisa que o valha, dizendo que assuntos como machismo e racismo são uma cortina de fumaça da imprensa paga pela "KGB" (oi?!) para tirar o foco do tema prisão do Lula.
Sei que me torno repetitiva, mas onde a novíssima classe média alimentada por sushi de plástico e porcelanato, irresponsável compradora de apartamentos em condomínios construídos em áreas que deveriam ser preservadas... Onde os viciados em códigos de barra, tomadores de etanol e gasolina do nosso país andam comprando seus cérebros?
Pra mim, há um portal nos subterrâneos dos milhões de xópins por onde saem pululantes zumbis com sacolinhas e cartões de crédito nas mãos.
Ok, eu já disse isso antes e ninguém mandou eu desrespeitar a regra básica:
"Nunca ler os comentários".
Assinado: Garota Enxaqueca virando sapo na Guarda do Embaú.