quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

VERÃO

Verão, 
eu queria te contar que dos outros eu gosto porque não gosto de sofrer; aceito porque não adianta me esconder. Procuro neles um pouco de ti na folha seca cor de ouro, no vento, no raio dourado que corta o frio, as flores antecipando teus poemas. Quando não tem sol, te encontro por dentro do meu cachecol e minh'alma faz amor contigo depois de um malbec e daí tu me fala: -Já volto... já volto.
Verão, eu aceito os outros mas não é traição, é só esperança, é só paciência. Por mim,
tu ficava aqui pra sempre, verão. Mas tu é como as ondas do mar, tu vai e vem, como transar.
Assinado: A rapariga que bebe o sol.
]bw[




SARAVAH!

Todo santo verão, um monte de pessoas brancas de camiseta preta morrem de nojo. A pessoa empina o nariz dizendo que é artista, um privilegiado ouvido de superior intelecto, o suprassumo do roque e por isso odeia carnaval.
Carnaval, essa coisa suarenta popular demais que surgiu lá nos quintais, se ocultando, proibido pelos nossos avós, negro demais.
Você que arrota que o samba e as músicas de carná são horrorosas, que são canções menores, só sei dizer que você tem que afinar mais seu ouvido e as cadeiras, viu.. Que o rock é filho do samba e ninguém é mais rock do que o Partido Alto.
Porque artista visual que não tem um coração louco para um dia trabalhar num barracão de escola de samba e aprender as colagens, os segredos e montagens mais incríveis; um músico que não fica com o coração no estômago louco pra se perder no meio de uma bateria e entender o que é uma cuíca; um bailarino que não fica a fim de sambar no meio da rua, nem que seja pulando com o bloco Império da Lã ou no Suvaco de Crishto, vou te dizer, essa pessoa não sabe amar, tem um coração muito vulgar.
A propósito, um dos documentários mais emocionantes sobre samba é de um francês, Pierre Barouh, e chama-se "Saravah". Viva Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho, Candeia, Clara Nunes, Bete Carvalho, Cartola, Vila Isabel, Rosa Magalhães, Paulo Barros, Aroldo Matias, o Maracatu e o Boi Pintadinho.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

PARA MARIA RIBEIRO E AOS RESPONSÁVEIS PELO ROTEIRO DO PROGRAMA SAIA JUSTA

*No programa Saia Justa do canal GNT, a atriz Maria Ribeiro afirmou que pessoas que não comem carne sofrem de deficiência de caráter. Achei que valeria uma resposta.
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Há quem considere vegetarianos e veganos hipócritas, tendo em vista o fato de que outros produtos do dia a dia seriam industrializados a partir do sofrimento animal.
Caberia neste tema um pouco mais de conhecimento por parte dos incautos antes de tais afirmações - e ler a respeito não é nada difícil. Vida responsável já está até nos programas dedicados a panos de prato.
A VER:
A manufatura de produtos veganos cresce no mundo inteiro e - para quem gosta de consumir uma atitude chique - isso é mais do que moderno!
Há sim, possibilidade de você usar bolsas, sapatos e todo a sorte de produtos lindos, des-uniformizados, feitos com responsabilidade e desenvolvidos absolutamente livres do sofrimento animal. Basta procurar, de tênis (inclusive os chiquérrimos de canhamo) a estofados, bolsas, produtos de beleza e tudo o que você precisar.
Os produtos de reciclagem, então, são o auge da modernidade.
Em se tratando de qualidade, designers, pesquisadores, laboratórios e etc vivem como numa gincana nesse mercado, cada vez mais qualificados a criar produtos sintéticos ou orgânicos que não prejudiquem a saúde de animais humanos e não sangrem ou torturem animais não humanos.
Ler a respeito é muito interessante.
Não usar produtos que dependam da escravidão de animais ou humanos é ter uma vida muito mais plena e leve, vale tentar Emoticon smile
Em tempo,
descambando um tanto além - não estou dizendo que seria o caso da senhôra Maria -, acreditar que é impossível ser chique sem uma bolsa de couro de 30 mil reais é o auge da cafonice, mas aí já entramos no próximo assunto... a luta contra a desigualdade social X coxinhas.
Ter mais coisinhas não define o caráter de um ser humano, mas a empatia e a percepção do que se passa ao redor com humanos e animais talvez seja um caminho para lapidarmos o nosso umbigo infantilizado de consumistas do século XXI.
biAh weRTher
*Se ligae em algumas dicas de fácil compreensão, pra começar, dona Maria Emoticon grin
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Quanto a mim, prefiro a morte por tesão.

O ano era 1992. A nossa juventude tinha a MTV como referência primeira, junto dela as rádios FM - quiçá pautadas por ela. Seattle estava em Porto Alegre, Rio, SP, BH... As capitais do rock no país exultavam um bom número de rádios FM dedicadas especialmente para o rock reunindo um número de ouvintes que nunca mais poderão vislumbrar com o advento das novas mídias e da pulverização generosa que nem por isso diversifica os olhares.
Havia uma crítica nos movimentos e ações jovens, um diálogo silencioso quando nos víamos nas ruas e não nos conhecíamos, um diálogo barulhento enquanto sorvíamos cerveja barata. A gente filosofafa e sonhava. A gente lia e gritava. Não nos dávamos por vencidos e não havia ódio ou comprometimento com o que não fosse desestruturar o estabelecido. Ou melhor, quem tinha ódio juntava uma turma e quebrava tudo (resquícios do movimento punk).
Os fanzines ainda eram de papel, colagem e xerox . A gente era feliz e sabíamos. No meio disto, enquanto a minha banda na época tocava nas FMs locais, aparecia nos jornais (que ainda distribuíam festivas capas de segundo caderno pra cena local) e lançava sua segunda demotape (Academias Chiquérrimas está namorando) eu engravidei do meu filho e passei a gravidez toda tocando violão e escutando de Jimi Hendrix a Nirvana. Jeremy tocava 10 vezes por dia nessa época. Hoje é apenas uma canção, mas naqueles dias, era uma marca, juntamente com Polly, do Nirvana, lançada - se bem me lembro - um ano antes.
Minha memória dos anos 90 não entende tristeza e pauta minhas vontades nestes tempos menos ingênuos, de mais dureza, menos união no meio cultural e artístico.
Do alto dos meus vinte anos como ativista da cultura alternativa e sobrevivente no udigrudi, atuando em 8 artes, posso lhes dizer que o roquenrou morreu ou deveria mudar de nome porque ninguém mais quer mudar o mundo.
bw

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Animal e o Metal

Pessoa de cristal
Nada a perder
E se toda a existência despertasse
em estado de transparência?

Invisíveis hematomas
Ciladas
E se algum menino louco corresse pelo tempo
inventando um jogo novo?
Venceria quem desarmasse todas as armadilhas
Venceria quem enterrasse as armas
Ganharia o perdedor

Nas mãos do homem o poder
Diante dele um coração de vidro pedindo perdão
E se um dia não existisse mais culpa?
Desculpa

Minimal
Você nunca vai saber
Você ouviu dizer?
Meu nome é ninguém
Tudo o que tinha eu te dei

Não importa onde estou ou estarei
Ali será sempre o meu ponto de partida
Uma passagem só de ida
O próximo passado
Para o resto da minha vida

}bw{

domingo, 17 de janeiro de 2016


VIVA SÉRGIO SAMPAIO, VIVA QORPO SANTO, VIVA CAIO FERNANDO ABREU, VIVA HILDA HILST, VIVA CAMPOS DE CARVALHO, VIVA GLAUBER ROCHA, VIVA CAMILLE CLAUDEL, VIVA TOM ZÉ, VIVA A DOR E VIVA O AMOR!
Há anos eu tinha o sonho de fazer um documentário sobre o Sérgio Sampaio. Apresentei o trabalho dele pra uma pessoa que iria fazer junto comigo o projeto. Sempre que eu falava das ideias, mostrava vídeos e falava do argumento, me dizia que jájá iríamos tocar o projeto. Eu, super orgulhosa, falava sobre isto com todo mundo e comecei a procurar uma produtora grande pra ajudar com editais. Há pouco, descobri que há muito ele se juntou com um amigo de outra capital e combinaram me excluir e fez contatos com pessoas que conheceram Sampaio e já estão fazendo projeto e colocando em editais sem meu nome. Diz que o amigo é melhor que eu, não por ser apaixonado como eu pela alma do Sérgio Sampaio mas porque o produto Sérgio pode dar uma boa grana se o audiovisual for feito por uma produção só deles, pois há mais rapidez, melhor burocracia, mais possibilidades de conseguir grandes recursos.
Sérgio Sampaio é um ídolo pra mim porque em muitos momentos de alijamento, caras como ele, letras como as dele, me fazem ir em frente.
Para esses cineastas que fizeram isto comigo, dedico uma das canções mais incríveis, a meu ver, do meu ídolo Sérgio Sampaio.

]bw[


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

POR UM REVEILLON CHUVOSO!

Gosto muito da chuva encontrando o mar, sempre gostei de praia com chuva, pra ler deitada na rede vendo o mar ali a se misturar com o infinito. Nunca vi um quadro monocromático mais bonito. Aqui no RS, no ano novo torço muito pela chuva porque daí estraga as festas nas praias, onde prefeituras irresponsáveis, comerciantes gananciosos e veranistas fúteis praticam toda a sorte de vandalismo.
Os barulhos excessivos de fogos são mortais para as aves silvestres, os carros e multidões ensandecidas esmagam a pouca vegetação natural que resta à beira mar. As toneladas de lixo e porcarias atiradas na cara da coitada da iemanjá - alguém precisa avisar que orixás não são acumuladores - são a maravilha que vai embelezar os balneários gaúchos pelo resto do verão.
O litoral parece até pior do que as grandes cidades quando falamos de gestores corruptos, construções desordenadas, especuladores terroristas.
E a grande piada nisto tudo é que os consumidores de caixas de vidro em condomínios sentem orgulho de fazer parte do inferno cheio de buzinas, pancadão, cheiro de esgoto e filas imensas pra comprar mantimentos.
No meio da areia-lama, dunas roubadas durante o inverno para construir casas de sal, as moças desfilam os biquínis caros, bronzeado e salto alto e as famílias de classe média fazem carão se esbaldando nas ondas de cocô. Cachorro não pode ir no mar, todos te olham feio e apontam a placa de proibido e as senhoras sebosas fazem cara de nojo. Carros cor de rosa com som horroroso a todo o volume, bitucas de cigarro e latas de cerveja tem passagem livre. É uma festa e da-lhe selfie de pés feios na beira-mar com o comentário irônico: - Tá difícil!
Estou vendo o dia em que vão colocar placa proibindo as poucas e resistentes aves de darem seus lindos rasantes.
Ter uma casa na cidade, uma na serra e outra vazia o ano todo na praia, em pleno 2016, ainda nos parece uma questão de "poder aquisitivo" e não de falta de educação. Mas isso é outra história... agora falemos do verão!
Eu vivia dizendo que paramos nos anos 80 como sociedade. Mas não, mudei de ideia. Estamos mesmo é em 2016, quando a primeira geração de analfabetos funcionais desembarca na meia idade. Salve-se quem puder! Quem governa o barco são os guris de apartamento com medo de lagartixa, com nojo de pobre, com a certeza de que podem quebrar tudo na rua e depois correr pra o seu quarto decorado pela última tendência na Casa Cor.
Eles acreditam que em seu feudo com muro que dá pra Estrada do Mar, que na sua torre que estraga o por do sol, não chegará o fedor. Pensam que moram em bunkers (como dizia o Leonardo Márquez Brawl, estamos no Show de Truman).
É o segundo ano seguido em que passo a virada no silêncio de Porto Alegre porque eu sempre acabo chorando na praia com os absurdos que preciso presenciar, a morte diante dos meus olhos e todos sorrindo de roupa branca.
Com o agravante de que, quando estou no sul no verão, a praia que frequento tem uma reserva ecológica há duas quadras de casa e ninhos de coruja diante do portão, a suportar os fogos e bate estaca há alguns metros.
Parecem todos parte de um filme de zumbis, de um filme futurista, de qualquer ficção que, finalmente, tornou-se realidade.
Viva 2016! Viva a Zumbilândia!
]bw[