quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O dia mais incrível é sempre hoje.

O dia mais incrível é sempre hoje.
Eu sou tri positiva sempre. Por exemplo, to tri doente e vou ter que fazer 3.452.943 exames. Mas isso tem um lado muito bom pois fiquei na cama até meio dia e assisti Tubarão. É um filme tenebroso pra quem defende animais. Odiável, apesar daqueles ótimos figurinos anos 70.
Depois o Gabriel chamou pra mim o táxi pra eu me arrastar pro médico. Eu nunca me arrumo, mas quando estou doente fico 3 horas me enfeitando, porque sou saudável demais pra sair pra rua com cara mórbida.
Me fui.... o táxi mais velho que o Papa. Rangia ao sabor do vento, sob o cinza outonal da nossa primavera.
O motorista era estudante de Teologia, falava mal do vício das pessoas pelo uátizap, mas ficava lendo mensagens. Me falou de Cristo, que ele previu essas religiões eletrônicas que vendem boa sorte. Me disse que os evangélicos de igrejas modestas e realmente servas do Senhor estão bastante horrorizados com o que as igrejas xópin, dos pastores-políticos, estão a prometer, deturpando a busca pela pureza da alma.
Eu queria descer do táxi pra entrar na clínica, mas ele estacionou e ficou uns 5 minutos tentando me converter.
A secretária do médico era uma senhora de uns 55 anos que não foi com minha cara. Eu sei, eu sou simpática demais com recepcionistas e isso irrita. Reclamou porque eu disse só o meu último sobrenome; se zangou porque eu esqueci o nome do médico já que era minha primeira vez ali; ficou braba por o coiso da unimed tava demorado...
O médico era um senhor de mais de 70 anos. Fez gracinha, me chamou de lindinha e depois de apalpar minha barriga disse que ela estava bem boa. Quando meu filho marcou a consulta pra mim, cheguei a dizer pra ele tentar uma médica mulher. É que desde os 13 anos tenho péssimas experiências com médicos senhores de idade. Não sei se é azar... Desculpa, não gosto de gracinha comigo dentro do consultório. Já não basta uma pessoa estranha metendo a mão na gente? Não precisa sorrisinho, bunitinha, cuidadinho, vozinha.
Táxi da volta, um guri todo sarado com umas tribais saindo pelas mangas justas. Ficou me contanto o porque de votar no Junior Marchezan. Achei curioso porque ele metia o pau na soberba da classe média, reclamava da falta de segurança para as famílias pobres, estudantes, trabalhadores da periferia. Falava em favor dos moradores de rua e que há pessoas que estão no crime porque não tem emprego, porém acha que grande parte dos jovens do crime tem jeito. Mas por fim, vai votar no Junior porque a campanha publicitária é melhor.
Legal, não discuto.
Em casa, rola um trabalhinho pra fazer de noite. Eu vou. Ficar doente em casa é chato pra caralho e além do mais, se tu tá te sentindo mal, acho que as imagens da tua câmera ficam mais sensíveis, entende...?
Dois beijos.
biAhweRTher

domingo, 23 de outubro de 2016

Missa Dominical

Claro que uma pessoa, ateia ou religiosa, tem seus defeitos e suas belezas. Ninguém é puro só por que acredita em Deus; ninguém é justo só por que decodifica os grandes pensadores.
Porém, minha tendência é confiar mais em pessoas ateias por motivos gritantes subjetivos e muito por experiências pessoais. Já vi muita gente grudada num rosário e vivendo sob a égide dos movimentos mais preconceituosos da história.
Simplificando, se você respeita as outras espécies, se você se incomoda com a desigualdade, sofre com o sofrimento alheio e luta por um mundo melhor sendo ateu, sua essência é pura por que é natural em você o sentimento de justiça.
Agora, se você não sabe como ser uma pessoa legal se não for obrigado a crer que há um senhor zangado, invisível e opressor lhe fazendo tremer diante do pecado para que você se obrigue a respeitar o próximo... daí.. poxa, seu caráter inspira cuidados.
Religião é como as drogas, você escolhe a sua favorita mas pode muito bem viver sem ela a não ser que você seja uma pessoa propensa a se entregar aos vícios. Eu adoro umas três religiões. Meu pai era ateu e não curtia esse meu lado místico, mas eu achava que era como tomar suplemento alimentar sabe. Em casa me davam terragran pro corpo e livros pra mente, na rua eu curtia entrar na igreja ou visitar a umbanda junto com a minha vó como quem toma uma vitamina pra alma. A mitologia da umbanda é linda, a igreja católica quando está vazia em seus ecos me dá uma certa paz. Depois comecei a curtir budismo e tive minha fase de visitar Três Coroas que, no final dos anos 90, virou modinha... Mas estou sabendo que eu, sozinha, é que preciso me melhorar e respeitar os outros. Só depende de mim ser alguém descente e honesta e isso eu aprendi com meu pai ateu que conhecia a bíblia de trás pra frente pois considerava uma publicação política e foi o cara mais digno, justo e tomado pela empatia que já conheci..
Um beijo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Sobre dividir processos criativos com homens.

Passei a vida entre uma maioria de meninos. Nas bandas que toquei, era só eu entre garotos. Nos meus filmes, uma maioria de rapazes. Nas empresas onde trabalhei (sim, eu também, antes de me aceitar artista, fui escravinha de senhores cretinos) e até na minha primeira faculdade, Administração. E fui uma coisa horrorosa quando era casada: a mulher por detrás da obra do homem. Coisa que muitas garotas ainda fazem, infelizmente.
Havia uma tensão, uma necessidade de provar o tempo todo, uma ansiedade, uma apneia, menos direito à voz, várias situações de assédio. Houveram centenas de episódios onde eu sabia que estava sendo excluída de situações, como numa confraria de paus, embora eu fizesse parte ativa (muitas vezes a mais ativa pois mulheres sabidamente são produtoras dedicadíssimas) desse ou daquele grupo de trabalho. 
Era difícil trazer a baila sensações de desconforto porque, não raro, alguém desprezava, outro me chamava de paranóica e sempre terminávamos na melhor saída desmobilizadora e desmotivadora que os homens encontram: "Está na TPM?"
Faz pouco que me entreguei primeiramente ao que é meu - artisticamente falando -, aos meus desejos e sonhos antes dos sonhos e desejos dos outros. 
Tenho buscado equipes de mulheres e gays. Não é por acaso, é opção. 
Há em mim uma escolha de trabalhar com poucos homens, até porque eles trazem certos preços que já não me sinto disposta a pagar. Em geral, tem mais preguiça de escutar e acham chatas as contextualizações e os processos que fogem de modelos pré-prontos. São mais arrogantes, se enrolam mais pra se entregar com amor a um projeto. Não digo que não consigam, mas é preciso ter paciência com eles até que relaxem. 
No mais das vezes, tem um vício de duvidar de metodologias orientadas por mulheres, tentam modificar o que já foi decidido num ímpeto competitivo que, muitas vezes, nem percebem, é inerente à sua educação; sentem dificuldade de serem dirigidos por mulheres sem antes desconfiarem. Relutam a entregar-se e isto trunca os processos e atrapalha substancialmente a circulação das energias.
Apesar de terem esses vícios, inconsciente coletivo, cultura de superioridade, aceito homens nas minhas equipes pois acho muito positiva a diversidade, acho necessária. 
Contudo, neste momento, estou preferindo que sejam minoria os homens nos meus ambientes de trabalho porque perde-se tempo demais preparando a recepção aos carinhas, sabendo-se que a maioria chega com uma certa altivez desnecessária, em posição de defesa, pouco a vontade; menos propensos a relaxar e gozar do trabalho coletivo; mais disponíveis a serem o centro em lugar de simplesmente parte e eu, nesta fase da vida, já não me sinto obrigada.
Um beijo.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

GASES BOVINOS E O EFEITO ESTUFA.

Vários amigos, assim como eu, na fatídica noite do domingo das eleições, desabafaram a auto-crítica, óbvia conclusão de que somos um povo servil, moralista, consumista e apaixonados por essa situação de adoradores de uma casa grande que nos atira seus restos.
Passadas as horas, ânimos menos exaltados (a gente se acomoda e nos adaptamos rápido), estou lendo verdadeiros desagravos.
Especialmente aqueles diretamente envolvidos com educação, passaram a analisar a situação política do país por um viés, talvez, mais vitimista... me desculpem.
A lógica que vai se moldando é a de que estaríamos, ao sair do sério com a vergonha nas urnas, culpando o povo e a esquerda e esquecendo de culpar os tentáculos do #Golpe, a malícia dos senhores poderosos, a podridão nos castelos...
Fico em dúvida sobre isentar a todos nós. O povo brasileiro já saiu dos limites da fome e a escola estava a cada ano mais inclusiva. Ao longo do governo Lula/Dilma, as pessoas começaram a "consumir" e fizemos festa para esse fenômeno que, aliás, irritou muito a cultura das castas. Lembram dos episódios de repulsa porque os antes descamisados agora desfilavam em aeroportos?
O que acontece, a meu ver, é que seja rico, seja pobre, o país tem síndrome de dona Florinda. Quando nos apresentaram possibilidades, logo pensamos em ter um carro, nunca investimento pessoal em cultura - só pra dar um exemplo.
De minha parte, essa era uma das minhas náuseas em relação às gestões do PT no planalto. Me parecia que o "poder de compra" era mais importante do que eliminarmos o poder das construtoras, as propinas, a morte do povo índio em nome da monocultura e do desmatamento... O que importava era baixar os impostos para as pessoas comprarem geladeiras e carros (o Brasil é apaixonado por carros, lembram?). Não perceberam que esse marketing era um tiro no pé?
Não acho que é culpa do PT, claro, pois desde os portugueses e dos jesuítas, o Brasil se mostrou um país ingênuo que se deslumbra com coisinhas, espelhinhos e celulares.
Simplicidade, em países progressistas, é ouro, aqui é uma vergonha. Ricos, médios ou pobres, somos essencialmente "consumidores" e não vemos nenhum problema em nos reduzirmos a isso. Somos caipiras que não valorizam o que há de bonito na caipirisse. Ainda estamos na fase de nos deslumbrarmos com as luzes da cidade e quando as pessoas perceberam que para ser um país sério, teríamos que ser menos consumistas, fizemos birra e nos jogamos no chão do super mercado.
A gente elege playboys e senhoras de laquê por livre escolha. Eles não vão dividir o brioche conosco, mas ao menos podemos adorar o inalcançável.
Se Lula é como nós mortais, ele só pode ter roubado os pedalinhos, porque nossos filhos não tem que ter pedalinhos.
Se Marcela é loira e Temer é "Maçom" (brasileiro tem tesão pela maçonaria mesmo não sabendo o que é isso), ela e ele tem o direito de ocupar a presidência e devolver a ela os ares de castelo e não queremos nem saber se eles são investigados por milhões e trilhões de pedalinhos escondidos no exterior.
Nós sabemos que os eleitos moralistas e fascistas são cretinos e que posamos de idiotas, mas não estamos nem aí.
O guri pobre e o guri rico querem a mesma coisa: um tênis bem caro, um carro bem caro, uma mulher peituda. A diferença é que um, sem pai, rouba ele mesmo, o outro espera o pai articular um roubo numa sala atapetada.
Eu sei, você vai citar a força do povo da caatinga e dos imigrantes como exemplo de força. Mas essa qualidade já não é da maioria há décadas. Compramos roupas e celulares costuradas por escravos e estamos felizes assim porque nos parece moderno.
Não consigo dividir o povo e achar que a direita domina sozinha.
A esquerda deu poder à direita porque é tudo a mesma coisa.
Não há esquerda ou direita, há ladrões sendo eleitos porque sofremos de uma mania de banalizar nossa existência.
Somos aquele escravo que festeja o nascimento do bebê da sinhazinha.
Um beijo.
biAhweRTher