sábado, 26 de dezembro de 2015

Espelhos e Pêndulos

Nunca sei direito quando desembarquei do cinema, da moda, da música e do texto e resolvi misturar tudo isto com artes visuais. Só sei que num dos cursos universitários que frequentei me apaixonei pela Semiótica. 
Daí, naqueles dias eu comecei a fazer grandes instalações e micro obras onde eu montava espelhos e pêndulos. As obras menores eu entregava como presente de aniversário ou natal ou de despedida. Aquilo era de uma importância tão grande pra mim que mantive um diário com apontamentos sobre as reações das pessoas que ganhavam meus pêndulos.
Mais tarde, eu comecei a fazer mulheres de argila em invernos chuvosos. Elas gritavam com uma boca imensa e o tempo úmido mexia com elas e era como se estivessem ficando com os corpos flácidos enquanto secavam lentamente e, por vezes, perdiam pedaços apesar de não irem ao forno, porque argila no forno me dá uma impressão de morte em vida.
Depois comecei a fazer homens em camas de prego com pênis eretos, o que talvez quisesse dizer que eles eram masoquistas.
Nunca mais esqueci que na fase das mulheres de argila com bocarras e mãos nos seios eu fiz uma mulher sofrida e grávida e dei de natal para a minha mãe que teve medo dela e não aceitou o presente e eu fui embora decepcionada. Minha ex-sogra acabou gostando e - não sei se pra me consolar - a mantém em destaque até hoje, perto da lareira, numa estante cuidadosa entre obras mais catedráticas.
]bw[


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