segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O mesmo diário.

Balanço na rede amarela, olhando, escutando, me afogando no mar. Ao meu lado, Júlia Albertine, perra leal. Ao redor as felinas, Uma e Glau, uma atenta, outra preguiçosa.
Praia vazia.
Foram-se como chegaram, histriônicos, eletroeletrônicos, glutões, alcoolizados. Em nome da paz, as bombas assaltaram a tranquilidade dos animais.
A despeito do rastro de latinhas e ossos, os pássaros estão em festa.
O ano não é novo, o ano não existe, assim como as fronteiras espaciais que dividem os jardins, as cidades, os países, guardando retirantes de olhos fundos no limbo do tempo e do espaço.
O ano não é novo, é apenas um número qualquer que marca o início do círculo carcomido. A vida humana é uma cobra que devora o próprio rabo.
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Balanço na rede amarela, pra lá e prá cá, namorando o mar.
Resolvo visitar a outra rede, que se diz social. Antissocial. Segue a mesma, como nos últimos dias, todos esquizofrênicos. Tentamos pensar positivo mas desistimos, tentamos acreditar mas duvidamos, tentamos nos fortalecer mas nos divorciamos.
As notícias hoje – confesso que li por alto – são sobre as primeiras tragédias do ano. Prefeitos fantasiados assumem seus postos, cinismo, descrédito. Novas notícias sobre assassinatos no país em nome da intolerância e do extremismo.
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Antissocial, largo a rede e fico na rede amarela, o mar está verde, o mar está tanto, o mar está. Um rapaz se aproxima do portão:
- Oi, quer milho verde?
- Quanto? - Negocio o desconto. Ele conta uma receita que sua irmã inventou.
- Tchau, guria!
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Algum vizinho solta duas bombas, livrando-se do estoque que sobrou. Lembram tiros de canhão ou algo assim. Mais uma bomba.
Pensei em começar um movimento anti bombas nos festejos. Em nome das bombas que estão matando crianças nas guerras, em nome dos animais que não tem nada a ver com nossos valores doentios. Pensei... não sei. Vai que algumas pessoas aderem... Soltar bombas em festejos nos tempos de guerra (que são todos os tempos) me parece um deboche, um sarcasmo, algo de criança má, egoísta, mal educada.
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Mais tarde, se não chover, vou sair dessa rede e caminhar até a reserva Tupancy, encontrar as capivaras que este ano ainda não vi. O parque, agora, é uma espécie de zoo para divertir humanos e não um local para preservar as características nativas.
Hoje, os loteamentos oprimiram o Tupacy e o transformaram num intruso entre os carros de som e o exibicionismo. Já não se vêem mais os orgulhosos casais de marrecas desfilando com seus filhotes rumo ao mar. Não mais.
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Aproximam-se nuvens. Tomara que chova no final da tarde, daí eu vou lá na vendinha e compro farinha e faço bolinhos de chuva e começo a reler alguma biografia. Verão sem biografias foda pra gente comentar o ano todo, não é verão.
O bem te vi canta como se a vida fosse perfeita. As aves negras dão rasantes nas ondas. O casal de quero-queros ensinando o pequeno filhote a voar, o mar, o mar, o mar...


Um beijo.
biAhweRTher


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