sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Em cada um de nós, um carrasco.

Linda manhã de chuva.
Finalmente dormi, e muito, umas 13 horas de sonhos inquietos, com essa sensação ruim no peito.
Ando preocupada com a censura que está se estabelecendo mais escancarada após o caso da exposição Queermuseu.
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Sinceramente, duvido que um só autor esteja agora tranquilo ao trazer a público sua obra. E digo mais, o escracho vem de vários lados em todos os grupos e sítios da sociedade digital. Já vi artistas sofrerem o diabo, sofrerem patrulha porque alguém "ouviu dizer" que seu clipe era racista ou machista. Já vimos todos vidas encerradas bem cedinho após bullying virtual.
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Todos nós temos esta tendência horrorosa e bagaceira de nos unirmos na internet pra massacrar alguém. De escutar uma fofoca e não perguntarmos para a vítima a sua versão ou nem nos preocuparmos com o bem estar de quem está sendo agredido coletivamente.
Todos nós temos um lado grotesco que adora tirar sangue, participar de um linchamento como quem vai a uma peça de teatro.
Note bem, quem participar de qualquer gritaria, a partir de agora, seja fofocas inbox, seja escracho público, que tenha consciência de que está sendo parte efetiva na organização da repressão no Brasil.
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Linda manhã de chuva.
Finalmente dormi, e muito, umas 13 horas de sonhos inquietos, com essa sensação ruim no peito.
Ando preocupada com a censura que está se estabelecendo mais escancarada após o caso da exposição Queermuseu.
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Sinceramente, duvido que um só autor esteja agora tranquilo ao trazer a público sua obra. E digo mais, o escracho vem de vários lados em todos os grupos e sítios da sociedade digital. Já vi artistas sofrerem o diabo, sofrerem patrulha porque alguém "ouviu dizer" que seu clipe era racista ou machista. Já vimos vidas encerradas bem cedinho após bullying virtual.
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Todos nós temos esta tendência horrorosa e bagaceira de nos unirmos na internet pra massacrar alguém. De escutar uma fofoca e não perguntarmos para a vítima a sua versão ou nem nos preocuparmos com o bem estar de quem está sendo agredido coletivamente.
Todos nós temos um lado grotesco que adora tirar sangue, participar de um linchamento como quem vai a uma peça de teatro.
Note bem, quem participar de qualquer gritaria, a partir de agora, seja fofocas inbox, seja escracho público, que tenha consciência de que está sendo parte efetiva na organização da repressão no Brasil.
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Noto xs amigsx que estão morando fora do país mais intranquilxs, intrigadxs, assustadxs do que nós com a intolerância que nos golpeia sem descanso.
Será que por estarmos submersos nesse processo de golpe e ditadura digital, estamos como as vacas a caminho do matadouro? Num pavor letárgico? Numa tácita aceitação, como se fosse inevitável vivermos agora um longo período de mórbida mordaça?
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Ok, seguimos em plena produção, cada qual com seus espetáculos, shows, filmes, exposições... Estamos firmes, criando. Olha a tua timeline e vê que hoje a noite, vários colegas estarão firmes em shows e estreias.
Todos eles correm o risco de aparecer horas depois apontados pelo dedo tecnológico do "boicote", uma expressão que falamos mais ao longo dos dias do que verbalizamos palavras como "amor" ou "pão".
Qualquer um pode ser o próximo a ser escrachado, abusado porque alguém viu uma entrelinha em sua obra que poderia denunciar um desvio de caráter. Aliás, todos já estamos com medo a cada opinião, a cada defesa da livre expressão. Ainda não me esqueci do rapaz de SP, que possivelmente nunca entrou num museu, a me chamar de vagabunda na página do Santander Cultural. As ofensas que vieram a seguir em caixa alta, aos berros, não li. Preferi respirar mais ao ver nomes de vários amigos a cada notificação, imaginei que haveriam várias pessoas assinando embaixo do meu ponto de vista e isto já me tranquilizou um pouco.
Mas se sucedeu uma avalanche revoltada comigo após minha avaliação na página. Lembro a cada um desses episódios sofridos por colegas, que em 2003 tive um surto de pânico após sérios ataques virtuais sucessivos e fiquei um ano sem coragem para trabalhar. Sim, não é de hoje que começamos a forjar este momento covarde. Há quanto tempo estamos sendo assediados pelo ódio muitas vezes sem rosto em nossos blogs e timelines?
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Bem, minha pergunta é sobre o que vamos fazer? Vocês sabem que vereadores de São Paulo entraram com pedido de "investigação" sobre os artistas e obras? Sabem que o político, falso líder religioso acusado de estupro, Feliciano, já está "inspecionando" os artistas da exposição?
Ficam várias perguntas:
O Santander Cultural tem consciência de que, ao ceder e encerrar a exposição com aquela carta pública, abriu um rasgo num limite e que por esse podem escapar fantasmas que comem cérebros?
A discussão que segue, com o curador da Queermuseu e outros artistas basta, sendo que está mais uma vez limitada a um público de arte e artistas?
Como faremos para debater mais amplamente, com a sociedade, os perigos da censura?
Um beijo.
biAhweRTher

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