sexta-feira, 11 de abril de 2014

Isto não é um mamilo.

Não tenho instagrão e, por estes tempos nem mesmo celular, mas defendo essa moda "selfie", assim como defendo a Valesca Poposuda (e tou falando sério).

Claro, "Selfie" não é "Selfportrait".
Basicamente, o primeiro é um retrato do fenômeno social ocasional e finito instigado pela pressão midiática, quando o segundo pode beirar o antissocial - ou não. Selfie é quando cada retrato é a cara de todos como naquele filme THX 1138, do George Lucas. Self, mais aberto, poderia ser quando alguém busca o que o diferencia ou o que o identifica ou nem tem qualquer pretensão. Um tem que ser sempre de ladinho, o outro investiga a pose.
É questão de conceito. Instagrão e feicibuque são pra você tentar embelezar-se aos olhos dos outros, e isso é selfie, efêmero  no sentido de notícia, sem pergunta e sem resposta. Certo, tecnicamente, um autorretrato pode muito bem ser momentâneo, instantâneo e pra embelezar-se aos olhos dos outros, mas é diferente...

Pra mim, o autorretrato vem de dentro. Pode até começar num elementar estudo anatômico, mas invariavelmente torna-se um mergulho em águas mais profundas. Quero dizer, não se vê dicas no programa loiro de variedades da tv sobre o que é certo e o que é errado num autorretrato, o que já o difere substancialmente.

Auto desenhar-se, pintar-se, fotografar-se...  um exercício de pensar a respeito de si, perguntar como o entorno o vê e sobre o que a vida transformará em você. Quando, como e quanto o que está dentro aparece em nosso olhar diante do espelho? Acho que é análise.
Gosto de pensar que, quando reproduzo meu corpo, estarei a aprofundar o olhar crítico sobre mim através de exercícios de contradição. Pensar, admirar, ensimesmar, surpreender-se, debochar de si próprio, ler-se, expor-se, ridicularizar-se. Me parece uma tentativa de auto interpretação por muitos ou nenhum motivo.

Sem a pretensão de um juízo de valores, apenas observando e formando uma opinião que não vai servir pra nada ou ninguém a não ser eu mesma (autorretrato), creio que "selfie" seria colocar uma máscara industrializada, enquanto o "auto" seria tentar entender e/ou retratar as máscaras biográficas, industrializadas ou sanguíneas.

Deve ser por pensar assim que considero sem propósito fazer autorretratos usando roupas. Não consigo entender a serventia dum troço desses a não ser que eu queira falar de moda, mostrar um figurino que desenhei e esteja em falta de outra modelo ou usar meu corpo como objeto de cena. Do mesmo modo, não entendo o imenso medo que o dono do feicibuque e as pessoas bem comportadas sentem de seios. Parece um castigo! Aliás, este é tema chato para autorretrato, claro. Pois selfie é quando você mostra um decote insinuante e self é quando você não observa seu corpo como objeto necessariamente picante - ou sim -, de modo que ocultar ou não o corpo passa a ser questão, discussão. Já o selfie não negocia, apenas mastiga, engole e sai na urina até que as marcas de telefone orquestrem o próximo surto coletivo.





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