terça-feira, 15 de julho de 2014

A terceira pessoa.


Quando o Ronaldão ficava pra lá e pra cá com a namorada no meio da Copa e depois amarelou, todo mundo culpou o técnico. Depois execraram o técnico que não deixou a Fátima Bernardes entrar na concentração pra comentar a cor das cuecas das princesas ou sei lá o quê. 
Agora a culpa é só do técnico-babá que entrou em cima da hora na Copa. Convenhamos, qualquer patrocinador manda mais nas modeletes que o técnico. 
Ninguém culpa também a CBF, os clubes, a ganância, a "cultura" do brasil deslumbrado por espelhinhos, celulares, jabás e fofoca.
Tal simplificação de nossos temas, pra mim, tem a ver com os ricos consumistas de escolas particulares pagando muitos dinheiros pra entrar num estádio com plaquinha pedindo a "educação" que não receberam em casa. Se antes dos fastfoods de sushi a culpa era sempre do mordomo, na nossa geração dos infantilizados adultos de xópin, tudo é sempre culpa da babá, que não fez seu serviço. Nossa parte é estarmos nas manchetes como as "vítimas", os "inocentes". o "público", o "consumidor". E saímos por aí, terceira pessoa, repetindo bobagens rasas, nos isentando, cobrando "atitude" como manda o âncora da tv, E saímos por aí, terceira pessoa, repetindo bobagens rasas, nos isentando, cobrando "atitude" como manda o âncora da tv, Sem parar um tantinho pra pensar no que queremos dizer com isto. Será que os motivos de tudo e todos não tem raízes em tudo e todos, intrinsecamente, numa sociedade que é um corpo só? Seja numa tola partida de futebol supervalorizada ou em assuntos mais fundamentais, somos espectadores babões, com cara pintada fazendo selfie ou lágrimas cenográficas nos olhos diante das câmeras.
Só digo uma coisa: enquanto as marionetes da seleção postavam bobagem no tuíter e o garvão exultava o fato de serem os campeões de seguidores e réchitéguis, os jogadores alemães usavam um aplicativo desenvolvido pra acompanharem a atuação de cada qual, buscando onde e como melhorar na próxima partida.
Ensinamos os jovens a almejarem um camaro amarelo e peitões. Lhes apagamos a humanidade, passamos a vida desejando vender os filhos pra alguma grande corporação em nome de "segurança" e "sucesso" e agora a culpa é só do Felipão?

A culpa, na real, é do coelhinho da páscoa!!
Isto me remete ao fato de que 99 por cento das pessoas que habitam as redjis sociais nem sabe que rede mesmo é algo que começou no século passado, uma revolução que conseguiu unir artistas, ativistas sociais e voluntários de causas relevantes em torno do planeta. Rede foi quando a gente pode começar a conhecer o que não estava na tv e não tinha jabá pra estar nas rádios e começamos a trocar figurinhas com cineastas, músicos, artistas visuais e coletivos do outro lado do mundo e descobrimos a saída, o milagre de poder co-organizar eventos, festivais, mobilizações, encontrando pares que não estavam na tv e talvez nunca pudéssemos encontrar, como hoje também não estão nos portais de fofoca. Rede foi quando músicos descobriram como ferrar com meijors e passaram a vender suas próprias músicas na internet. Rede é quando você se junta pra criar algo e não uma pracinha, um clubinho pra culpar os outros pela mixórdia que fazemos no mundo. E isto não é outra história, tem tudo a ver com o Neymar.

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