quinta-feira, 10 de julho de 2014

Uma pet bed, o Romero Britto, muxoxos e Carlinhos Brown


Procurando uma cama nova pra minha cadela Júlia Albertini, descobri, pela bagatela de 165 dólares, horríveis pet beds assinadas pelo Romero Britto (aquele senhor que publicou em seu saite um texto se identificando como o novo Picasso). A parte boa é que vendo o referido objeto horroroso com os mesmos rabiscos industrializados de sempre, perdi a preguiça e arranjei um tempo para abrir minha máquina de costura. A Júlia Albertini agradece ;)
Certo, precisamos ser justos! Afinal, Romero Britto não é o único vendedor de latinhas coloridas a representar a infantilidade do moderno consumidor de coisinhas coloridas idênticas a outras coisinhas coloridas.
Outro dia mesmo, vi umas telas do Carlinhos Brown - que, inclusive, é pra muitos uma espécie de Romero Britto da música brasileira - e pensei comigo: tudo o que é ruim sempre pode piorar...
De verdade, as pinturas do Carlinhos Brown me lembraram uns exercícios das aulas de pintura, quando todos tínhamos que jogar umas tintas "organicamente" sem o direito de filosofar porque, afinal, nós eramos pequenos demais pra conceituar qualquer bobagem.
Depois de dias fingindo que sabíamos (ou não) o que estávamos fazendo sob os muxoxos e humhums da mestra ou de uma aprendiz que nos avaliava quando ela estava em viagem, a  maioria das jogações de tinta ficava o mesmo retrato de um ovo frito. Só que uns ovos fritos eram mais pra ovos pochê.
Então, vinha o momento tenso, quando a professora elegia alguns pra analisar como pretensos pintores muito ruins e outros, muitas vezes filhos de gente do meio acadêmico, ela e a bolsista escolhiam para serem o exemplo do pintor promissor.
Nesta parte. minha  alma vídeo artista me forçava a gravar, mas claro que nunca divulgava, porque não seria ético mostrar estudantes de arte sendo enxovalhados diante dos colegas como soldados num quartel. Mas era muito interessante. Elas colocavam a mão no queixo, faziam uma parada dramática, emitiam sons, trocavam olhares cúmplices e discorriam sobre a incrível expressão superior do gesto de alguns, destacando aquela mancha azul mais azul que a mancha azul dos demais e o pontinho roxo mais incrível que o pontinho roxo de outros alunos menos geniais. E a performance andava, passando por inevitáveis comparações com grandes nomes até que amarravam a avaliação dando um quase zero pra os pontos roxos péssimos e um quase 10 pra os pontos roxos praticamente orgásmicos!
E havia uns poucos alunos - acho que inclusive eu - que eram analisados com mais pressa, como nem isto nem aquilo, quase uns nadas. Creio que isto se dava devido a nossa tendência a um certo comportamento marginal e é sempre melhor não confrontar diretamente os punks... nunca se sabe.
De fato, esse mundo dos grandes nomes das 8 artes brasileiras, tanto quanto o planeta da acadimía e os olhos das curadorias são coisas que eu sou louca demais pra entender ou marginal demais pra ter saco ou bruxa demais pra ter paciência.
Logo, por fim, pelo sim, pelo não, melhor a minha cadela ter uma cama nova assinada por mim!


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