sábado, 19 de julho de 2014

Pulso


Ando acreditando que exercitar a respiração é uma prática solitária muiiito milagrosa.  Me parece que livres e leves das sacolas de compras, sem a competição que deixa a respiração rápida, aguda, curtiiinha, conseguimos nos sentir como o necessário nada, apenas parte de um todo muito fluido. Esvaziar a cabeça, encher o pulmão e ir deixando o ar sair de va gar...

Tá, mas estou me resumindo ao nosso tempo. Na verdade, a história é mais comprida ainda. Tenho a impressão de que aprender a respirar demora tanto, mas tanto, que um qualquer para e morre pra que o próximo dê seguimento. Pra piorar, como em todos os ciclos e mundos, a memória individual ou coletiva de determinada célula resolve falhar e daí fudeu! Sempre há um átomo que nasce do zero, esquecido da vida anterior e do próximo ato. E existe ainda a sintonia fina do desaprender sem desaprender. Digo, você precisa deixar de ser criança mas, pra manter sua essência, você tem que morrer criança. Portanto, teremos que entender o real significado do que é ser criança para respirar como um bebê até ficarmos bem velhos. Mas e se alguém dentro de você estiver com apneia e amnesia, a desentender o que é ser um ser? Vai ver, daí você morre velho e infantil no mau sentido de velho e no péssimo sentido de infantil. Morrer talvez seja esvaziar o pulmão e renovar o ar que o outro irá respirar. Bem, esta parte do ápice final não é nenhuma grande novidade.

Conjugar ou Oxigenar.
Descobri que os exercícios para deixar que o ar passe por nossos pulmões livremente, indo embora e se purificando para seguir circulando dentro e fora tem a mesmíssima importância que aprender a não usar demais a primeira pessoa. É uma questão de harmonia, dinâmica. Tema musical.
eu pequena, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles.

Não falo de preservar-se, omitir-se, amedrontar-se, acanhar-se.
Não. Quando falo da economia dos eus, me refiro a revisarmos nossos pensamentos, oratórias, orações com o cuidado de nos fazermos perguntas fundamentais, como quem sai da primeira infância - ou não.
Antes de batermos no peito gritando "EUUU isso, Eu aquilo..." as peguntas que poderíamos nos fazer são diretas como no release de um espetáculo:
Quando, como, onde e por que estou usando a primeira pessoa?

Ás vezes o Eu é desnecessário, noutros momentos primordial. Resta manter a calma, esquecer a ansiedade e descobrir qual o sentido do seu eu. Se for uma necessidade desesperada de provar algo, daí melhor relaxar e observar se a respiração não está curtinha, quase precisando de uma máscara de oxigênio, quase um pedido de socorro e atenção. A correria pra mostrar que a gente É, pode significar que andamos a escolher a criança errada.

Então, aprender a respirar é parte de aprendermos a falar em mim quando for, de algum modo, bom para os outros dos quais sou parte? Me parece que sim,  mas posso estar dizendo um monte de bobagens...




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