domingo, 17 de agosto de 2014

O que se pensa é mentira.

Na escola de artes, estou entre os poucos alunos (serei a única?) que discorda do mandamento número um:
"O base de todo o artista está no dominar as técnicas do desenho."
Discordo tanto que, numa série de 7 mulheres que comecei neste mês, a segunda se chama Academia e postei o processo todo (sem observação, sem modelo e não realista) na minha fanpage. Ela tá ficando com uma cara de durona! Comecei com grafite, juntei pastel caseiro e agora estou misturando guache. Gosto de usar pincéis velhos, alguns endurecidos pois esqueci na tinta... Porque, embora seja uma heresia, eu acho que pincéis baratos e desgastados dão um efeito incrível. A minha dama está ficando assim:

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Mas sobre regras, em arte, muito me aconteceu de não terminar cursos. Sempre tive problemas com colégio, métodos estáticos e passo a passo, porque eles podem limitar a criatividade. Aprender sozinhos, demora muito mais e desperdiçamos material, tempo e até pessoas. Contudo, não seria justamente este perder-se a exata (inexata) imersão no sentido criativo?
No meu caso, as coisas mais legais que inventei, seja fazendo animação direta na película, fotos, objetos, direção de arte, filmes, figurinos, projeções, trilhas musicais com theremin, caixas mágicas... sempre saíram de algum erro que virou beleza aos sentidos de alguém que comprou, premiou ou aplaudiu. Primeiramente, claro, aos meus próprios sentidos, em minha solidão, gritando eureca e vencendo a insegurança. Pois ainda tem isto de mágico, não saber se o que fazemos serve pra alguma coisa além do nosso próprio prazer.

Na escola, em geral sentamos a aguardar uma lista de materiais e ferramentas que iremos comprar. Depois, aguardamos o tutorial, orientação na busca do acerto. E assim vamos sendo reconhecidos artistas, conforme as avaliações de quem sabe mais e tentará ajudá-lo a escrever alguma história. Infelizmente, como na medicina ocidental, normalmente esquartejamos corpos, fala-se em materiais numa sala e em matérias na outra, o que me parece um pecado, mas quem sou eu?

No ateliê, se você sentar e esperar, nada se dará. Com o tempo, sobre materiais, a gente tem de tudo, inclusive nossos próprios grimórios, referenciais, bibliografia, matérias porta a dentro e porta a fora, como num laboratório de cientista maluco. Por isto, quando buscamos algum curso pra encontrar determinadas respostas, um ambiente pode contradizer o outro, pois neste mar louco em que nos encontramos, que pode parecer uma eterna bagunça, é onde acontecem surpresas impossíveis em uma sala de aula e vice versa. Fazer o elo, ao menos pra mim, sempre foi complicado.

Acho estudar artes importante mas, a meu ver, o conceito de qualquer obra será uma falácia se a metodologia for um arremedo de alguma cartilha.
Sendo assim, quando você faz da arte a sua vida e se assume sem constrangimento, a despeito de qualquer título ou crítica dogmática, você percebe que estudar arte é uma continuidade, é de dia e de noite e por motivação particular. Podem haver os deadlines mas não há tema de casa quando você é artista. Pouco importam as "notas" e sim os segredos desvendados. Se você cria coisinhas que não vão matar a fome de ninguém (talvez nem a sua) verá que você nunca estará "formado", que algumas obras, independentes, podem levar a vida toda pra sentirem-se prontas.

Quando você não vive de arte, mas vive pela arte e não tem resposta quando lhe perguntam o que você faz exatamente, percebe que arte não é um bibelô na estante, que uma obra pode ser apenas uma nova pergunta no mosaico de todo o questionário, onde sempre vem uma nova questão técnica, tecnológica, conceitual. E daí, um dia a gente vai morrer e talvez tudo tenha sido uma coisa só, um corpo todo construído de trabalhos interligados, com veias e coração, pele, pulmão...

Alguém pode me dizer que arte não tem que perguntar, não é pra pensar, mas apenas enfeitar. Sobre aquela busca do belo e perfeito, certo? Pode ser, mas ainda fica uma questão sobre qual mundo, qual parede, qual corpo sua arte irá aformosear. E não estou falando de preço, espaços sagrados e poder constituído. Isso é bobagem, fantasia de alguém que só conhece a teoria. Estou perguntando sobre o tipo de gente com quem seu trabalho irá dialogar. Porque a arte de fato nunca será uma unanimidade. Pra ser unanime tem que ter bom comportamento e esta parte acho que não compete à arte.

biAh weRTher

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