quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Não passaremos.

Os dias estão lindos e floridos. Ontem o céu era um vasto azul, limpinho, nenhuminha manchinha do algodão das nuvens.
Calor, é verdade. Mas vida. A força da natureza.
Uma pena tanta gente sem educação, alienadinhos, lavando calçada de mangueira como se encontrar água fosse fácil como encontrar egoístas.
Tá, mas eu quero falar de coisas legais que sinto quando tá calor e dá pra sair meio pelada pra rua. Eu sinto, de repente, que a natureza vai vencer esse jogo, sabe... Porque pra ela não existe um jogo, só oxigênio e ciclos.

Por exemplo, há uma pracinha que é como o quintal do meu prédio, fica logo atrás. Era pomar também, mas agora estão matando as árvores frutíferas.
Muito da matança das árvores por ali, segundo dizem vizinhos que acompanham mais de perto, era obra de um comerciante que via as árvores como culpadas pelo pouco movimento em seu comércio. As árvores atrapalhavam a vista da sua placa à distância, as árvores poderiam ocultar até maus elementos, as árvores eram o problema de sua vida de empresário sem lucro. Assim, ele cortava a facão, a mão, a serra, com força do pensamento. Tudo valia, até ligar todo o tempo para a SMAN e pedir em nome de todos nós, vizinhos, para que tirassem todo aquele verde dali, pois estaríamos com medo de seres do mal ocultos pelas árvores.
Diante de tanta insistência, veio a SMAN uma, duas, três vezes. Assim, ficou meio sem sombra, está mais calor, menos namorados às tardes, menos piqueniques, menos pássaros.
Bem, a matança não gerou mais negócio pro empresário, óbvio. Ao contrário, caiu mais o movimento e ele passou o comércio adiante antes que fosse tarde. Dizem que o novo dono quer fazer as pazes com o parque. Tomara.

E as árvores? Assim, uma figueira para "quem" já tínhamos feito até tristes despedidas, parece começar a ressuscitar do nada, qual fênix. Um sinalzinho de vida, um milagre!!
Um pé de acerola, mortinho da silva, decepado a facão, um nadinha no meio de um canteirinho seco, começa a mostrar um pequenino galho verde com 3 ou 4 folhas, ressurgindo... 
Nem todas, claro, irão renascer dos cinzentos momentos de fúria do homem. Entretanto, algumas estão mostrando a força que tem a natureza. 

O que eu quero dizer com isto? 
Quero dizer que, pra mim, apaixonada que sou por terra, chuva, cheiros, bichos, mato... Eu acho que nós, idiotas infantis metidos a donos do brinquedo, quando nos dermos conta que a vida não é brinquedo e muito menos estamos no controle dela, estaremos num fim fedorento, comendo cimento. 
Nós morreremos, estaremos fodidos, pequenos, sem ar e sem água. Sobre nossos cadáveres sequinhos, após o último suspirosinho, ressurgirão as árvores e corredeiras e danças de asas, mares e orixás. Uma festa digna, um sambinha legal!
E nós, extintos sob nossos entulhos, engolidos pelo tempo, com moedas nos bolsos poeirentos e latas enferrujadas iremos sumindo, sumindo até nunca mais, ninguém, nenhum ser do futuro lembrar que existiu uma gentinha pequena, sem pelo, que nem pelada andava e que achou que conseguiria matar tudo o que via pela frente e reinar sozinhos, mastigando cinzas, brindando com chuva ácida. 

Minha previsão feliz é que nós, imbecis, cairemos. Nós não passaremos.

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