domingo, 11 de janeiro de 2015

Declaração de Dívida

Declaro para os devidos fins que, eu, fulana de tal, não sei quanto já aprendi. Só sei, das lições, que cada um de nós vale tão somente o número de moedas de ouro que leva nos bolsos pra contratar amor, adquirir respeito, trocar por carinho, comprar simpatia, escambar confiança.

Certa vez, comecei uma faculdade de Administração de Empresas. Era péssima aluna em matemática financeira. Também nunca aprendi a tabelar o preço do afeto e isto nem é outra história. Detestava o primor com que nos ensinavam que o interesse vem antes da amizade.
Não soube valorar como se deve o que produzo nem minhas partes do corpo. Tive preguiça de me organizar em curtos vocábulos apresentados em diagramas no páuer póinti. E assim, briguei com aquele ambiente - e com vários outros - e saí batendo as tamancas. Nunca voltei ali nem pra pagar a última mensalidade.

Sou inadimplente. Desdigo a linguagem dos contratos, desentendo os símbolos hierárquicos triangulares pontiagudos afunilados. Não sei nada sobre isso, só sei do fundo dos olhos. Estou devendo aquele abraço trocado por um presente caro. Eu devo e nego e não pago nem se puder pelo tua desumanidade mascarada de raciocínio lógico me olhando do alto como um ser pequeno que sou e você também é mas não sabe.

Eu trabalho muito. Trabalho até nos domingos, enquanto você almoça filés entre falsos amigos e pensa mal de mim e se ri revirando os olhos de manjar, suando a língua. E quando um dia eu tiver muitos dinheiros - o que é inevitável porque trabalho no que amo - não te convidarei para um almoço solene, quando te presentearia com um apartamento, um carro zero, uma casa na praia pra que, finalmente, percebas que existo e suspires com orgulho: - Eis aqui alguém que venceu e já merece minha mão!

Não, quando eu tiver muitos dinheiros, jogarei milhões de moedas contaminadas de mil pontas de dedos sujos numa chuva brilhante sobre teus cabelos, tuas mãos e os pés cartesianos e sairei de perto quase correndo, sem nunca olhar pra trás pra não dar tempo de te ver de joelhos, resfolegando, catando, mostrando quem de fato és, me fazendo sentir dó. E tu, idiota, nunca saberás que não se trata de um pagamento. Não te cobrirei de ouro para mendigar afeto, mas como intensão de quebra de contrato. Pois dinheiro, caso não tenhas entendido, não compra nada, muito menos gente. Dinheiro afasta.

Devo. Sou inadimplente dos amores de mercado. Pega o teu fluxograma, o teu organograma, o teu livro caixa, tua senha do cofre, as chaves e o porta jóias em forma de coração e os enfia no c*.


biAh weRTher

Nenhum comentário:

Postar um comentário