terça-feira, 17 de março de 2015

1984

Acho que estudos de Zoo humano voltarão a ter sua relevância agora que a Globo perdeu a audiência e vai dar fim ao Zoo de um milhão. Eu acharia interessante um projeto assim no Brasil de hoje, com voluntários, gente comum, sem disputa por carros ou fama, apenas uma jaula pra observarmos pessoas, cada qual na sua loucura, se aturando.
Achei surreal agora quando folheei a tv no Multixô e estavam Marisa e Adrilles brigando sobre o valor das imagens diante do valor das palavras.Marisa não negava o valor destas, mas alegava que as imagens são também uma escrita e, afinal, vieram bem antes. Adrilles dava pulinhos e citava de Borges a Freud.
Exaltaram-se minutos e mais minutos e acabaram partindo para continuar o debate tomando um café, na cozinha. Pareciam gente.
É, acabou-se o tal de BBB. Onde estão as gostosas com vocabulário de 5 palavras??
Lembrei que, nos anos 90 eu assistia um programa no GNT que era um estudo sobre o que seria um zoológico humano. Era numa casa, um retiro em lugar qualquer da Europa que não lembro mais. Interessantíssimo. As pessoas aceitavam ser voluntárias na pesquisa e não concorriam a nada, acho que ganhavam, sei lá, 500 dólares pra se prestar para aquilo. Você assistia e ficava discutindo o assunto horas. Melhor, não sabiam da existência das câmeras e nem da ilha de edição!
Depois, patentearam a ideia e transformaram num programa de televisão que ganhou franquia no Brasil, onde virou um Zoo não exatamente de humanos.
Quando eu li que o Zoo dos robôs iria acabar aqui no Brasil, fiquei curiosa desta versão que não chamou o público e já assisti várias vezes. Gosto do Adrilles porque ele leu grandes autores apesar de ser um cara chato e afetado.
E simpatizei muito com a Marisa pois apesar de não ser exatamente uma idosa, sofre com o preconceito pesado dos mais jovens.
Isso que fazem com ela me remeteu aos primórdios da ideia de Zoo humano, antes de virar programa de gostosos viciados em clara de ovo. Me faz pensar no quanto a velhice assusta e faz as pessoas novas odiarem quem não estica a cara se dar ao displante de mostrar-se na tv. Quero dizer, o fato de ela ser apenas uma senhorinha sem botox ou lipo, faz eles pisarem nela e fazerem deboches pelos cantos, ao invés de aproveitarem o fato de ela ser legal e mais velha. A primeira conclusão que se chega é a de que num programa de TV não se pode ser gente real, normal, que se vê na rua, no supermercado e em casa.
Mas então, se sabemos que na tv não tem gente de verdade, o que queremos?
Queremos ser todos um monte de coisinhas de mentira, um milhão no bolso e a cara esticada Emoticon smile

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