sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

SOBRE HOMENS INCOMPLETOS E SUA INUTILIDADE

Já me aconteceu de ter parceiras incríveis trabalhando comigo em pré produções e, do nada, elas terem que sair de projetos porque nos dedicamos demais e os carinhas delas começavam a exigir que se afastassem. Teve um ano do FLõ, que a pessoa mais apaixonada pelo projeto foi obrigada a sair e sofreu muito. Era o namorado ou o festival.
Quando se trata de processos livres - não falo de arte vendida em galeria de xópin, mas de hibridismo, festivais independentes, filmes e etc - a gente dorme e acorda com o trabalho porque não existe o critério padrão de espaço-tempo. Não há um relógio que desligue sua criatividade, não há uma parede que defina o local da sua sensibilidade. Tudo e todos são referências e inspiração.
Não estou aqui dizendo que se trata de uma regra, estou apenas elaborando sobre minha experiência como liderança de coletivos, que começou lá nos anos 90 e não é nada pequena.
Desculpae os meninos machos, mas é bem recorrente que quando você está trabalhando só com manas, gays ou rapazes já conscientes da relevância do seu eu feminino,
as coisas vão rolando muito mais intuitivas, profícuas e menos desconfiadas, burocráticas.
NÃO estou dizendo que um grupo sem machistas é perfeito, digo que é necessário. Claro que há discordância entre pessoas criativas e isso é importante, faz parte, é salutar, empurra pra frente. Óbvio que meninas se estranham no meio do processo.
Mas quando há um homem na equipe ou há um homem, de fora, com poder de decisão sobre as escolhas de uma das mulheres da equipe, tudo fica mais truncado e começam a surgir desconfianças.
Dialogar com mulheres, gays e homens femininos sobre processos criativos e levar adiante tais processos é algo parecido com as ondas do mar. Uma complementa, continua a outra.
Nada é duro demais porque a arte necessita de adaptações, a produção e as tomadas de decisão encerram nuances e subjetividades, tal qual as próprias obras que iremos expor, exibir, performar.
 A necessária humanização de um grupo, a sensibilidade de saber que cada qual tem seu tempo e para cada um o tratamento e as expectativas são diferentes... são itens muito mais facilmente alcançáveis quando todos os homens envolvidos são humanos já treinados para entender, aceitar e festejar o feminino que habita todos os seres vivos.
Claro, as linhas curvas dos relacionamentos não deveriam faltar em qualquer local de trabalho, não importa qual a matéria, mas isso é um crescimento que a humanidade ainda levará uns mil anos pra compreender.
Porém, quando o trabalho envolve arte, daí todos os espinhos fálicos e todos os cantos angulares das relações devem ser p r o i b i d o s. Simples assim. Num coletivo que trabalha com arte, não cabem pessoas que vêem as mulheres como seres menores a precisar de alguém que pense por elas. Em um coletivo que trabalha com expressões artísticas não cabem homens que pensam que todos os gestos de uma mulher são recatos para seus pênis. Pessoas que oprimem a si mesmas inutilizam as vivências saudáveis, minam, desmotivam, corroem.
Gentilezas \o/
biAhweRTher

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