quinta-feira, 9 de março de 2017

Dando a luz.

Hoje estávamos iniciando a pré-produção das montagens do eixo de Artes Visuais do FLõ festival do livre olhar, lá na La Photo Galeria e numa certa hora uma chuva gigante veio lavando tudo e trazendo a noite. 
Algo começou a mudar dentro de mim naquele momento. Vi minha equipe se empoderando, sentindo-se dona do festival. Fiquei pequena, observando. Meu nervosismo de pré festival foi dando lugar a uma sensção de segurança e paz. Vi as pessoas que eu apresentei umas as outras convivendo, trocando ideias e se tornando amigas, tomando pra si decisões, enriquecendo o nosso mundo.
Percebi que chegou o momento em que o festival se liberta um pouco do meu útero criativo, intelectual, conceitual.
Senti que ele começa a tomar forma não só a partir dos meus sentidos, leituras, interpretações.
O Bom Fim estava às escuras, andei nas ruas e, pela primeira vez em meses, tive uma necessidade de perder o controle do que acontece, descansar algumas horas da liderança.
Comprei um malbec e só penso em ficar sozinha ou com alguém que não esteja sabendo nada sobre o festival.
Vejo pessoas que não conheço divulgando e comentando os eventos. Assisto os artistas (são cerca de 100 obras/projetos no programa), mais de 300 envolvidos direta e indiretamente em cada exposição, espetáculo, sessão de filmes...
Observo-os partilhando orgulhosos suas participações, alguns sem mesmo saber que há uma pessoa chamada biAhweRTher que inventou esta casa cheia de janelas.
É que não importa quem foi, importa quem seremos.
Nunca desisto do que eu quero, sou workaholic e idealista no nível máximo. O envolvimento das pessoas é diretamente proporcional à minha paixão, mesmo que eu, em algum momento, já não tenha a mínima importância.
O festival é como nossos filmes, nossas músicas, nossos escritos e invenções. Há o momento em que não temos mais domínio algum sobre elas.
Ainda assim, apesar de isto ter crescido e não ser mais só um projeto meu no silêncio do meu lar estúdio, eu consigo entender onde eu queria chegar e sinto orgulho de mim, por unir tantas pessoas, por fazer o quase impossível num país que odeia artistas independentes.
É como estar sentada sobre essas nuvens cinzas, sentindo o ar mais fresco e gostando de si mesma.
Sem falsa modéstia, não sei porque eu faço tudo isto, mas sei porque aprendi a gostar de mim.
Que a semana do dia 21 a 26 de março de 2017 seja o melhor que pudermos fazer, ser e subverter.
Um beijo

biAhweRTher

Nenhum comentário:

Postar um comentário