terça-feira, 5 de setembro de 2017

TODAS AS ACADIMIAS DO MUNDO.

Eramos adolescentes, revoltados com a faculdade, debochávamos dos colegas riquinhos e fazíamos fanzines. As academias de puxação de ferro também nos pareciam uma ovação à futilidade.
Em resumo, a gente era do contra, tanto que fizemos uma banda que se chamava, por deboche, Academias Chiquérrimas.
A mim, parecia que toda a academia, fosse pra cabeça ou pro bíceps, guardava as mulheres num abatedouro.
Mais de 20 anos se passaram. A meu ver, poucas mudanças.
É noite e assisto uma entrevista, no programa "Conversa com Bial", com a Secretária Executiva da Academia Brasileira de Letras, que lá trabalha desde 1966. Mais de meio século...
Sobre mulheres e academias, segundo ela, houve muita resistência dos imortais quando nomes de mulheres passaram a ser cogitados para vestir o fardão. Relata que a esmagadora maioria dos homens não queria nem pensar em mulheres na casa (até hoje são ao todo 7 manas entre as centenas de acadêmicos em 120 anos).
Curiosamente, a senhora, muito simpática, conta alegre da marcante passagem em que uma mulher visitou a casa para tomar chá com os grandes homens das letras.
Leila Diniz, quando estrelou "Todas as Mulheres do Mundo" tornou-se objeto de desejo de todos os senhores da cultura, da TV, do cinema, das praias... então foi convidada especial para ornar um dia inesquecível na ABL. Um dia ricamente registrado em fotos.
Os imortais, colocaram seus babadores e fardões e a receberam para uma tarde na Acadimia de Cuidadores da Língua.
Hoje, na entrevista, quase 50 anos passados, a secretária da academia, folheava para a câmera uma revista da casa. Páginas e páginas de senhores pertinho dela, babando, abraçando, sorrindo, fazendo gracinhas ao pé do ouvido de Leila Diniz, que era uma mulher tão foda, mas ali nos retratos parecia tão infantilizada...
A secretária teria feito de propósito tal paralelo? Não... claro que não.
Mas o fato é que da entrevista se compreende que mulheres escritoras eles não queriam, a opinião de Leila sobre literatura não devia ser tão importante.
O que a casa queria, ao que parece, era colocar os dedos, os narizes e os olhos sobre o objeto que aparecia de lingerie na tela de cinema.
E as Academias Chiquérrimas?
Era só uma banda juvenil no underground dos anos 90 onde eu era vocalista, baixista e tecladista e tinha que ser meio Leila Diniz, meio foda, muito punk porque os garotos eram todos uns machistas e queriam que eu fosse só uma xícara de chá no meio do palco.
Ricas ou não, famosas ou não, velhas ou não, importantes ou não, fardadas ou não, parece que assim são todas as acadimias do mundo.
Um beijo.
biAhweRTher

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