sábado, 5 de abril de 2014

Moda?

O que é moda? Voltei a estudar o tema, não só porque as vezes faço fotos de moda ou apenas pelo projeto Abissal - onde mapeio com projeções um vestido que construo a mão na montagem da exposição - mas por vários motivos e novas invencionices que conto depois. E, afinal, minha primeira profissão, com 18 anos, foi uma marca que criei e, com a ajuda da minha mãe, me abriu as portas pra o mundo. Me levou a coisas como sair da casa de meus pais e ter meu próprio dinheiro, gerar emprego, errar e acertar, saber trabalhar em equipe, estudar cores e o valor de uma estamparia própria, fazer figurinos e adereços pra dança, músicos e cinema e, como todos sabem, passar a trabalhar com várias  outras artes. 
Modelar vestidos me libertou a ponto de não ter medo de trabalhar naturalmente em cinema e fotografia com corpos nus. A moda é parte da construção das personagens. Não era pra mim viver só de moda porque me parecia um meio onde a maioria não gostava da história da moda. Me incomodava ver um profissional comprando estampas em série ou não sabendo modelar e costurar. Via alguns colegas como apenas vendedores de roupas que gostavam de festas. Moda não é somente abrir uma revista e dar gritinhos ao ver o que já está pronto. Moda é ter o seu canto criativo, cheio de histórias da sua vida e ver que ele se espraia pelo seu cotidiano. Moda não é se fantasiar com a roupa mais cara e confundir a vida real com "glamour" (seja lá o que querem dizer com isso). Moda é um dos modos de contar a história de cada cultura e a nossa micro história pessoal. 
Moda é minha mãe trabalhando no seu ateliê quando eu era pequena, bordando vestidos diante dos meus olhos apaixonados por aqueles cheiros de tecidos mágicos, minúsculos detalhes, retalhos e alfinetes. Moda é a Dna Veneranda, uma senhora que só falava talian, mãe do meu melhor amigo, sentada em sua máquina de costura antiga, sob o chão de cimento queimado e azulejos, diante da pequena janela que desenhava a parca iluminação e servia de moldura para a plantação de gérberas e crisântemos lá fora. Ela sofria de depressão e, quando não estava internada, não saía do quarto, onde se ocupava fazendo colchas de retalhos e remendando roupas setentistas dos seus jovens filhos. Eu tinha uma babá que me levara às tardes para a casa deles, para brincar com meu amigo, seu filho mais novo. Aquela cena da sua silhueta à máquina de ferro me fazia vê-la como um mistério, como se eu embarcasse em um livro sobre a história de um mundo inteiro. 
Gosto pouco da moda como o nosso tempo a vê, embora eu goste tanto do assunto. Essa moda a serviço de embalagem de picolé, "tendência", superficialidade féxon, preços...
Falando nisso, queria mostrar esse vídeo, com um dos poucos que admiro na "moda" brasileira, o Ronaldo Fraga. 

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