segunda-feira, 7 de abril de 2014

Night off

Noite vadia. Se me despeço e durmo, começa a semana e viro gente que trabalha. 
É que, pra mim, o melhor dia da semana é a segunda, pois faço dela uma mistura de domingo, feriado e dia de ser irresponsável.
Por exemplo, gosto de fazer coisas como ver o mundo de cabeça pra baixo, meditar no final da tarde e a noite assistir bobagens bem burras na tv. Hoje mesmo, assisti o Just Like Heaven. Não conhece? Nem precisa! É um filme bobo de uma guria que está em coma, um cara gostoso que vê fantasma e trololó final feliz. 
Isso me recorda alguns momentos em que pessoas que me admiravam bastante me entrevistaram sobre meus filmes em segundas- feiras e, ao me perguntarem os filmes que eu mais curtia, respondi coisas como Legalmente Loira, Cruel Intentions e ET. Great, biAh!!! Bom modo de perder seus poucos admiradores. Eu poderia falar das minhas referências criativas e contar que assisti meu primeiro Truffaut junto com meu pai lá pelos 13 anos e que sei de cor tudo a respeito de Glauber. Buñuel e Man Ray. 
Mas pow, a pessoa me vem fazer perguntas numa segunda-feira de outono? Eu não gosto de fingir, quem me conhece sabe. Sou como sou, estou como estou, mesmo quando tiro uma folga dessa seriedade que me consome e me transforma na garota enxaqueca, velha dos gatos, Greta Garbo.
Ah! Não vou ficar mentindo para as pessoas que sou a mesma das quartas, quando acordo com os cabelos de Mafalda, toda cheia de críticas, leitora de Beauvoir, fã da Giulietta Masina, Anna Karina... 

Bom né, nas terças eu sei de cor várias passagens de Senderos, da Liv Ullmann.
Nos sábados, então, posso te dizer na ponta da língua páginas e páginas da Náusea do Sartre.
"São cinco e meia. Levanto-me. Minha camisa é fria, se cola a minha carne, saio. Porque? Bem, porque também não tenho razão alguma para não fazê-lo. Ainda que fique. Ainda que me encolha em silêncio num canto, não me esquecerei de mim. Estarei presente, pensarei no assoalho. Eu sou..."

Mas hoje é segunda e ontem, domingo. Ontem trabalhei até as 5 da manhã e preciso ser um nada agora, um vazio, um vácuo, preciso crer que não sou nada melhor do que a maioria das mulheres (sim, tem dias que acho que sou mais complexa e menos frívola que os outros). Nada em mim é mais inteligente só porque não uso maquiagem. Tampouco sou especial diante de uma mulher que faz luzes no cabelo e usa perfumes doces demais. Se eu for feminista ou se eu for machista, tudo vai dar na mesma nesse mundo que gira em torno de si próprio e não vê os fios coloridos que saem dos nossos umbigos e nos ligam a um outro ser, um twin que todos temos (eu via minha alma quando era adolescente e tinha desdobramentos e me via do alto, ali deitada. Mas isso é uma historia para as quintas).

Não te acontece isso nunca? De as vezes ser outra, ter outros gostos, tesão por outro tipo de gente, músicas e filmes? Só livros é que não. Nisso não mudo. Mesmo numa segunda de abril, NUNCA me sentiria atraída por uma Marta Medeiros, por exemplo. Se bem que lá na praia já li uns romances meio bobos, desses que ficam esquecidos por alguma tia nas casas de praia ou de fazenda e, 20 ou 30 anos depois, a gente encontra e começa a ler e, sei lá, as ondas do mar, a chuva, as estrelas e as gaivotas.... Quando nos damos conta, estamos querendo saber como será o final. Agora me lembro! Certa vez, na praia, eu gostei de uma crônica da Marta Medeiros. Mas tudo bem, devia ser uma segunda e eu estava lendo uma Zero Hora que ficou no chão do banheiro. 

Bem, hoje acordei a uma da tarde, paguei contas e fui cuidar da minha beleza. Dermatologista e Nutricionista, Moinhos de Vento, Bela Vista... Falei coisas tolas e fiquei feliz porque perdi 2 kilos. No final da tarde, saí com a minha cadela Julia, sentamos na nossa pedra, na praça. Temos uma clareira pra meditar e quando alguém resolve por ali ficar nós nos concentramos e a pessoa sente um tipo de coceira e desocupa rapidinho o nosso lugar secreto. Sento em posição de lotus voltada pra o sol e fecho os olhos tentando encontrar uma luz lilás. A Julia deita na grama, a meu lado. E assim ficamos até o rosa do por do sol ganhar os tons roxos.
Então eu deito na pedra, de cabeça pra baixo, e olho o mundo. Árvores e prédios de ponta cabeça, um casal de velhinhos sentados num banco, caindo no céu... 

Pronto, foi-se o dia, foi-se meu eu mais (ou menos?) banal. A propósito, acho que vou fazer um peeling de cristal...

Gentilezas \o/


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