sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Um texto que vai ficar pra sempre no meu blog.

Queria combinar uma coisa com todo mundo. Sempre que eu faço uma aparição pública - como normalmente meu trabalho são instalações ou intervenções em espaços não próprios pra arte, não específicos e tradicionais, não equipados e planejados e, portanto não óbvios -, corro riscos, desafio as impossibilidades, invado momentos, propostas, espaços no intuito de surpreender. As dificuldades tem um nível maior, pois é menos confortável e há sempre o inesperado, tecnicamente falando.
Assim, em geral, mesmo a gente planejando muito, nós ficamos na labuta o tempo todo. Há pouco tempo para recepção e eu não me sinto a estrela da festa, mas apenas a serva. É pra vocês interagirem com a outra ponta, a obra. Não raramente, nestes anos todos em que fiz vídeo instalações em cerca de 20 cidades pelo país todo, a alegria é deixar as pessoas me vendo trabalhar. Essa é a minha performance. Que me vejam estressada quando é o caso, dando pulos de alegria quando algo dá certo, só conseguindo ter olhos e assunto com quem está no projeto comigo, avaliando o que tá bom e o que não tá.
A meu ver, participar de um tantinho do processo é como conhecer o camarim, o ateliê, o estúdio. Discordo de quem acha que deixar conhecer o processo é tirar a magia. Muito pelo contrário, é quase sexo. Por isso, sempre deixarei pública parte da criação, porque acho frio demais ficar de banho tomado e roupa nova esperando os convidados. Prefiro que eles venham pra cozinha ajudar a temperar. Acho chata a obra fixa, vazia a visitação tradicional.
Finalmente, lá pela metade, posso resolver que já deu e que agora quero deixar a coisa - obra - viver sozinha e ser esgotada pelas pessoas. Só então eu paro e vejo as pessoas, reconheço quem é quem.
Então amigos, não se magoem quando eu não sou só sorrisos ou quando eu demoro pra dar atenção. Não me deixem preocupada no outro dia por saber que alguém foi embora chateado porque eu estava trabalhando, porque é isso mesmo. Esse é o meu escritório. Não se retirem me achando mal educada, pois isso é desprezo ao outro ponto de vista. O meu abraço, o meu beijo, o meu "que bom que tu veio" não está no meu corpo, mas no que eu produzi pra te despertar alguma sensação inesperada naquele momento.
Ontem, quando as pessoas começaram a perceber que eu não ia explicar nada, que a Júlia não tinha explicação, o meu coração ficou flutuante. A Alci Lau, foi a primeira, quando começou a ver formas, depois instigamos as pessoas a interagir e começaram a fazer fotos e tocar. E daí sim eu parei de me preocupar e me liberei do trabalho. Uma pena que notei pelo menos quatro pessoas saindo, porque eu não lhes dei atenção ou por achar que eu tinha que parar para receber as pessoas. Projeção editada in loco, quando a gente para, para a obra. Em tese, eu nunca posso parar 
Emoticon smile
biAh weRTher

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