quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

BiAhgrafia

Na minha loucura workaholic, organizando a vida pras férias, me veio essa ideia idiota de nem viajar porque né... por aqui, trabalho não se separa de sono, insônia, sexo, febre, jantar, vinho, domingo, segunda, preguiça ou diversão. 
Meu trabalho sobrevive por, pela, para a observação e isso começou muito cedo. Minha primeira memória racional foi, a meu ver, um trabalho. Estava entre pessoas da minha família, caminhando pelo campo, na fazenda, talvez com dois anos de idade. Escutei uma voz feminina, discreta,baixinho a avisar para uma mulher que andava em minha frente, que o zíper de sua saia estava mal fechado.
Era como se tudo ao redor fosse escuro e nublado, embora eu saiba que se tratava de um dia ensolarado. Abriu-se uma espécie de portal entre eu, bebê, e os mínimos detalhes do mundo real. A saia era azul e evasê, um corte bonito na altura dos joelhos. Duas mãos fuçando no zíper. A mulher de saia azul tinha um corpo jovem e delicado, acho que era a minha mãe.
A partir daquele dia, observo tudo, mas quando apresento meu trabalho, NUNCA falo do meu processo usando expressões como "investigação".
"O artista tal investiga não sei o que" é clichê, cacoete de TCC. Entendo e acho até bonitinho, mas não sou uma artista pálida, ensaiada, de vestido limpo, explicando, explicando...
Por isso que, em meu sítio, ainda não subi a minha bio careta, essa dos prêmios, cursos e comprovações exibicionistas reunidas em formato chato padrão que, ao menos pra mim, são como os meninos de 13 anos no banheiro medindo o tamanho do pênis. Um trabalho de artista, a gente conhece quando quer, não quando ele tenta provar que existe, batendo os cílios.
É por isso que talvez exista quem não entende o meu sítio, cheio de salas, quartos, ateliês que a gente vai decorando do jeito como fazem as pessoas que constroem o próprio lar, sujos de tinta, sem precisar contratar um fazedor de moradias em série e um entregador de armários das casas Bahia.
VISITA MINHA PSEUDO BIO!!!

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