quinta-feira, 18 de junho de 2015

Algo fora do lugar.

Em um ano, foram várias. Uma colega muito querida do IA, a minha irmã mais velha que era pintora, uma professora de artes, uma amiga artista plástica que eu conhecia desde 1995 ... agora mais uma, que se aproximou de mim há vários anos, pelo facebook, pois além dos muitos amigos em comum, tínhamos este amor pelos animais.
Escrevo textos repetitivos sobre essas mortes, da sensação de que morremos todas um pouco, porque estamos diante de uma epidemia sinistra.
Não, não me digam que Deus quis assim, não me digam que pra morrer basta estar vivo ou que tudo depende de avanços científicos.
Estas mulheres que cito eram jovens, tinham tantos projetos, geravam belezas, misturavam cores, tinham leituras livres sobre o espelho feminino, representavam o mundo das fortes, iluminavam caminhos, apontavam um novo jeito de ser mulher.
Para mim, volto a dizer, estamos contaminados por alimentos, por poluição, por dores que impingimos uns aos outros, vítimas todos os dias quando nos deixamos levar por uma sociedade bélica, numa cultura pós moderna onde é proibido nos vermos como parte e como iguais. Eu sei, você acha irresponsável quando eu digo que a epidemia do câncer de mama é mais do que um tema da medicina.
Mas a meu ver, e já disse também isto, é sintomático que o seio que alimenta e garante a vida da humanidade esteja doente, bólido de metástases. Só quem viu de perto (e quem não viu ainda?), sabe que é uma doença que tem o poder de infectar com sofrimento todos os que estão ao redor da vítima. Todos viram fantasmas.
Só sei que há algo errado, não era pra ser assim, não é natural.
E é por isso que, a cada morte, a cada uma de nós que se vai, eu que sou vista pela minha médica como parte de um grupo de risco devido o histórico na minha família e porque, bem jovem, precisei arrancar o meu ovário esquerdo, me torno mais vagarosa.
Não me apresso a viver as coisa rápidas e as competições, a pensar que uma hora dessas eu talvez venha a ser mais uma nas estatísticas .
Ao contrário, a cada enigma, a cada estrela que se apaga, eu vejo que é preciso não perder tempo como a pressa urbana. Histeria, ódio, frieza, egoísmo, dinheiro, superfície, o trânsito, a ostentação, a gritaria, todos estes sintomas de uma doença coletiva que é mãe de muitas doenças físicas.
A cada malícia, você se contamina, mata um pouco alguém e a si mesmo.
Você pode me dizer que não estou falando coisa com coisa, mas estou convencida de que há uma mensagem e um aprendizado a tirarmos das doenças incontroláveis. E não são apenas as pesquisas científicas que vão nos ajudar a entender o que se passa. Me parece que, pelo menos por agora, que a medicina parece mais vencida do que assume, o que podemos é mudar o modo como vemos os que estão ao nosso redor.
Depois do fim, nada mais vai adiantar e não adianta chorar. Por enquanto, o que podemos fazer é nos desarmar, não mais jogar e sim alimentar a empatia, nos igualar e amar. Quem sabe assim, mudados, menos apressados, mais interessados em trocar o mais puro oxigênio, um milagre aconteça e mulheres possam morrer com mais dignidade, sem tanta dor, tão cedo, cansadas de sofrer.
Certo, você pode acreditar que o câncer só precisa de remédios químicos, mas eu acho que nós estamos metabolizando os mais variados tipos de veneno que nos entregam para alimentarmos corpo e alma. Sinto como se os mais humanizados, os menos enraivecidos, as menos armadas, acabem sendo abatidas em maior número, o que não deixa de ser uma terrível contradição.
Caso eu esteja dizendo bobagem, pelo sim, pelo não, não quero ser aquela que esqueceu de dizer eu te amo ou não teve tempo de olhar alguém nos olhos ou que agiu como se os que estão ao nosso redor fossem viver pra sempre e pudéssemos deixar pra amanhã. Vivamos bem devagar e com entrega o que realmente importa e não fechemos tanto as portas.
]bw[

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