terça-feira, 4 de agosto de 2015

Agosto

Não costumo ter inferno astral, porque estou sempre apaixonada e feliz, cuidando de minhas coisinhas. Porém, fico reflexiva,,,
Estava a pensar na minha relação com meu filho, que sempre foi muito adulta, apesar de ele ser mais adulto que eu. De como tivemos força pra fugir do lugar comum onde uma mulher resolve jogar em seu rebento suas carências e passa a querer apropriar-se da vida do outro, só porque casualmente esse outro veio parar nesta dimensão por seu intermédio. Penso sobre o quanto sofro e sofrerei a cobrança de, muitas vezes, ser mãe por skype, viajar a trabalho quando a uma mãe cabe apenas se doar e bater no peito a dizer com orgulho que não pensa em si. Não padeço em paraíso algum!
Nunca me apeteceu ficar conversando sobre o formato das fraldas descartáveis no playground, mas assistíamos desenhos animados, tomávamos banho juntos, fazíamos filmes e músicas e ríamos muito, ríamos e dávamos cambalhotas e deixei que ele preferisse nuggets com miojo a cenouras e alface. Desenhávamos juntos nas paredes e boa parte destas artes foram incorporadas na decoração, suas primeiras obras.
Depois a gente se respeitava, eu me divertia de um lado e ele do outro. Sentíamos falta quando um de nós estava longe, mas a vida é assim. Há lugares pra conhecer, tarefas a cumprir e algumas não tem que ser com a mãe ou com o filho. Cada qual vai andar sozinho, tomar decisões.
Hoje peço licença para opinar sobre o que importa, mas nunca me senti no direito de resolver qualquer das suas escolhas do dia a dia. Ele, por outro lado é muito paternal comigo, coisa de capricorniano, sempre cuidadosos e provedores, diante dos leoninos extasiados ao sol.
Há um preconceito ao nosso redor por eu não querer saber o que ele comeu hoje ou não ligar o tempo todo a perguntar se pegou o agasalho. O que agasalha meu coração é a facilidade com que nos dizemos eu te amo e como ele me abraça e aceita qualquer das minhas decisões pessoais que, decididamente, não são parecidas com as decisões de noventa por cento das mães. Eu sou uma mãe que ama ser uma mulher e sou antes de mãe uma mulher. Sou presente, sou ausente, sou o que posso ser, mas nunca serei aquela que vai cobrá-lo, seca e dura, para que seja uma extensão dos meus sonhos, destes cuido eu.
Sumo, não faço dele o centro dos meus dias e o meu amor por ele não compete com os outros amores que sinto. Cabe tudo no meu peito.
O que nos ligará é a liberdade do ser. Parecidos somos, mas não por obrigação, e sim por que nos une um desejo de inventar coisas que causem sentimentos nas demais pessoas. Ele músico, eu uma miscelânea criativa. E quando me perguntam porque eu sou tão jovem, eu não digo nada mas penso:
Deve ser porque nunca procriei um escravo.
]bw[

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