quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Dona Emília e eu

Dona Emília e eu.
Entro no ônibus na Anita. A meu lado uma senhorinha toda arrumadinha já engata um papo. Ela fala muito, eu também. Na Nilo Peçanha eu eu já sei que ela é professora aposentada e ela sabe que eu estou trabalhando demais e ganhando de menos. Perto do Parcão eu já sei que ela perdeu o marido quando tinha a minha idade e que sofreu tanto que nunca mais quis casar de novo. Eu sinto pena mas digo que invejo esse amor dos antigos, porque no nosso tempo a gente tá sempre namorando mas nunca é a mesma pessoa e, não raro, é mais de uma pessoa. Ela me pergunta se eu sou muito distraída e eu respondo marcando o s que ssssimmm!
Então é isso! Fica olhando os pássaros, apreciando a vida... Esquece quem está ao lado. Acontece muito, diz ela. Pessoas assim são do mundo, não se apegam porque o coração se distrai com sentimentos invisíveis.
Invisíveis.... repito umas três vezes fazendo um sim com a cabeça.
Ela conta do seu filho que tem minha idade e fez doutorado. Eu falo que meu filho estuda produção musical e que muitas vezes fui mãe pelo msn, porque eu viajava muito nos projetos de cinema.
Chegamos na estação do Hospital de Clínicas. Ela me diz que vai descer no Pronto Socorro pra pegar o T5.
- Puxa, a senhora anda por aí de ônibus, pra lá e prá cá e eu que sou desprendida?
Rimos.
- Biah, ela diz, tudo de bom na sua vida, que tu seja muito feliz. Que você consiga tudo de mais lindo e seu filho seja um grande músico.
- Obrigada, dona Emília, pra senhora também, muitas coisas lindas!
A porta abre diante dela. Eu já começo a me distrair com as pessoas andando na Osvaldo Aranha, quando ela me chama:
- Biah!
- Sim, dona Emília!
- Me enganei. Teu filho já é um grande músico e tu já é muito feliz.
]bw[

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