Sou boa com os adeuses. Ok, também sou legal com inícios, mas sou tão péssima nos miolos que me perco no caminho e viro nuvem, asas, névoa... Quero dizer, eu gosto de dizer Oi e Tchau. Mas não é simples assim, é muito mais lindo. Um Muito Prazer é uma dança do acasalamento e um Adeus é uma ópera. Ao menos pra mim.
Mas a parte do meio eu sempre quero pular porque é aí que eu vacilo e
não perdoo. O meio é quando a gente descobre as verdades,
escuta mentiras, tiramos as máscaras e tudo passa a ser um sórdido
trivial... Nessa parte eu quero correr pra minha solidão. E como não ser
dependente da solidão? Gente mente. Dividir os miolos da vida com gente é ter
que caminhar numa corda sobre um precipício que une dois lados seguros; o
começo e o fim.
Nada pode ser pior que ir se transformando dia a dia numa peça de um
jogo de tabuleiro. Você estuda o outro, o outro te estuda. A isso se dá o nome
de convivência e é nisso que se perde a magia e os mistérios que, pra mim, devem ser os únicos segredos aceitáveis em qualquer tipo de relação. Por isso que eu vejo assim, que
os inícios são doces, os finais poéticos e o recheio é um prato que azeda, a
menos que a gente não respeite nunca as regras de convivência estabelecidas na
sociedade onde as pessoas vivem juntas pra elaborar a inimizade perfeita.
Se eu tivesse algum poder sobre a mesmice cotidiana, se eu pudesse
eu faria com que nunca mais na face da Terra a gente quisesse a
normalidade de um dia igual ao outro.
É que eu tenho uma teoria de que o que estraga o parêntese entre os encantos
do conhecimento e do desconhecimento, entre o chegar e o partir é essa jaula
que leva o título de Rotina. Mas que mixórdia é essa? Eu acho que as pessoas,
depois que se conhecem, deveriam apenas se divertir.
Tenho urticária, reação alérgica, tosse seca sempre que algum entendido
social aparece atrás de uma mesa, em frente aos diplomas da parede, a dizer que
a qualidade de vida é diretamente proporcional à rotina de uma vida. Comer,
dormir, trepar, conversar, tudo em horários definitivos até que não exista mais uma minúscula surpresa e você não
aguente mais o robô triste que divide esse meio com você. Então você começa a
mentir, pra fugir da mesmice do saudável cotidiano. Vão se foder!
Ai, sei lá, sabe... Por isso que eu fujo e me escondo no mundo, na
rua, bem louca, cantarolando, míope sem os óculos, sem saber os nomes das ruas,
sem dar o meu endereço. Me perco na multidão e não olho pra
trás e daí vai entrando um oxigênio e aí eu vou e vou e vou e, ah, paciência...
agora esqueci... Ninguém é de confiança mesmo. A não ser que aconteça um milagre e me apareça alguém assim, tipo eu, que da sua vida só queira fazer besteira, voar as tranças por aí.
]bw[
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