quarta-feira, 18 de novembro de 2015

UM MÊS DENTRO DE UM ANO DENTRO DE UMA VIDA DENTRO DE UMA VACA.

Pra quem não me conhece, me apresento. Eu sou uma, sou pequena, nunca quero muito, tenho 1m 60 e 51 kilos, calço 35, não uso maquiagem e nunca coloquei peitos de silicone. Tenho mãos magras e machucadas por conta do tipo de trabalho que faço e amo fazer desde a adolescência. Me sustento, me alimento pouco e gasto pouco, cozinho muito bem, ganho meu dinheiro e divido ele com quem aparecer mesmo que eu não saiba se é verdade que a pessoa não poderia viver se eu não dividisse o que eu consigo. É que eu não me importo, é que dinheiro é uma coisa que as vezes eu tenho e não uma coisa que me tem. A minha carteira não é o centro da minha vida. O centro dos meus dias são o sol, a lua e a chuva. Dizem que eu sou tri bruxa, no mau sentido.
Não quero assustar ninguém sobre a verdade de ser mulher, então vou fazer a conta só do último mês dentro de toda a minha vida.
Durante o meu café, hoje, tentei não fazer os cálculos porque meu coração está cheio de cálculos, pedrinhas dolorosas que não saem no xixi e não tem como resolver com uma microcirurgia a laser; não desmancham apenas porque você estalou os dedos, assim como estala os dedos na hora que quer de mim uma groupie do seu pênis.
Eu sou uma, eu me viro pra viver.
Faz pouco tempo, muito pouco que eu entendi que não devo me deixar levar pelo jogo que define o que é uma mulher. Eu acho que agora, finalmente, aprendi a ser uma mulher.
Faz pouco tempo, muito pouco que eu não deixo você me fazer sentir culpada por ter nascido e me iludir sobre a condição de dependente.
Faz pouco tempo, muito pouco tempo que eu percebi que o que tenho não veio de graça, que eu não lhe devo nada, que não tenho uma eterna dívida com você.
Neste mês, só neste mês contei 6 episódios sérios de agressões masculinas sobre mim, metade delas foi alijamento profissional a outra metade foi pessoal, mas as duas coisas em meu mundo não se dividem. Trabalhar é minha vida como comer, tomar banho e dormir.
Todas as agressões masculinas que sofri nos últimos trinta dias tinham relação, de algum modo, com sexo ou gênero.
Em todos esses episódios você não estava só, você tinha outros homens junto de você. Mas eu não. Eu estava apenas comigo e não contei nada pra ninguém e quando eu lhe disse que tive vontade de me defender pela lei você declarou que sou louca, sem caráter, má, ingrata. Depois, eu deixei você ver que eu sangrei, então você relaxou e riu de mim. Mil a zero.
No último mês alguém tentou transar comigo mesmo sabendo que eu não queria, uma banda de SP resolveu queimar meu nome porque eu lhes presenteei com meu trabalho mas não poderia colocá-los antes dos meus clientes e "atrasei" os vídeos que fiz de graça.
Um produtor do Rio tentou me excluir de um projeto que, inclusive, era meu, porque não perdoou o meu "Não" íntimo e esteve esperando anos para vingar-se.
Se você é homem ou uma mulher obediente, deve estar pensando:
"Puxa, só com ela acontece tanto machismo!"
Não, não é só comigo. É que eu não sei ver abusos morais e emocionais como algo normal e cotidiano. É que eu não vejo com naturalidade ter que viver em estado de alerta, em guarda. É que quero me distrair e ser feliz sem precisar estar em guerra.
Trabalho com uma maioria de homens e sempre foi assim. Alguns deles procuram fazer projetos comigo para ficar perto e, quem sabe, transar.
A frustração do não os transforma em inimigos, cedo ou tarde.
Os dois piores caras que me causaram momentos traumáticos no trabalho ao longo dos último 30 dias tem o dobro do meu tamanho e poderiam me dar um soco na cara e eu não teria força pra revidar. Mas eles optaram por juntar-se com outros e praticar um alijamento profissional sistemático. É que um soco na cara a gente cura, o abuso moral talvez nunca.
Você tem medo de mim, me parece. Mesmo eu sendo uma e você muitos e você tão certo em seu andar de quem tem mais coisas no meio das pernas.
Faz pouco tempo que eu li sua alma e entendi o que passa. Eu sou uma, eu sou pequena e ainda assim eu te enfrento e isto você, que é tantos, não suporta. Você tem medo de mim. E sabe de uma coisa? Sim, tenha medo. Tenha muito medo de mim porque, você tá certo, eu sou louca.

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