sábado, 12 de dezembro de 2015

A sangria santa.

Adentramos há quase duas décadas no século XXI e finalmente - ufa! - boa parte das mulheres perdeu o medo de lutar contra os tabus milenares que lavaram nossas cabeças a rezar que não somos donas do próprio corpo e existem seres invisíveis a espreita pra nos castigar se quisermos escolher o que faremos com ele.
Todavia, de gravidez à masturbação, a escravidão parece ainda ser uma questão de decência e honra pra muitas. Infelizmente ainda há um grande número de mulheres de todas as idades que sentem medo de serem donas dos seus próprios corpos e mentes e, para não ficarem sós, perpetuam, impõem os discursos dominadores.
Há anos observo um debate que é o maior, mais velado, senão o centro de todos os tabus a respeito do corpo feminino: o sangramento.
A maioria muda até o tom, é tema inviolável, sagrado, questão fechada.
O sangue como prova de que mulher nasceu pra sofrer. De minha parte, acho um saco quando o assunto entra em pauta nas reuniões de meninas porque é sempre como levantar a bandeira do fardo inevitável. Eca, eu me isolo e aumento o som quando as pessoas fazem cara de orgulho do sofrimento ou algo assim.
Desde cedo vivi severos problemas decorrentes da menstruação, então muito pesquisei - mais tarde adotei - a opção por não menstruar (santa é a liberdade).
Até hoje fico surpresa com algumas pessoas muito jovens que repetem discursos arcaicos sobre o sangue sagrado e a crença de que adotar métodos contraceptivos ininterruptos causa infertilidade, entre deduções mais tristes como considerar que a mulher que não sangra é menos mulher, rezando a cartilha de que só nascemos pra parir.
Quando me deparo com algumas opiniões horrorizadas e tons amedrontados a respeito da opção pela não menstruação, me vem sempre esta certeza de que as mulheres brasileiras acham que são livres só porque lhes deram o direito de mostrar a bunda na praia (cá pra nós, em muitas ocasiões isto está mais para prisão do que para liberdade).
Bem, minha sina é fazer parte de grupos fora do padrão, então sinto na pele e ouço os sussurros quando falo da não menstruação. Dou de ombros, pois tenho a a certeza de que mulheres adeptas de qualquer das formas modernas de contracepção contínua, seja por questão de saúde, porque não querem e pronto; assim como as que precisaram tirar o seu útero ou mesmo as que estão velhas não deveriam se esconder tanto com medo de serem consideradas o anticristo.
Não menstruar é lindo.
Cada uma que faça o que bem entender com seu corpo e a medicina é o único caminho para tirar tais dúvidas, não as crendices milenares ordenadas pelos deuses de barba sobre nossas cabeças e sexos.
Seja qual for a opinião que você tenha, nunca esqueça que nenhuma mulher vale pela quantidade ou pela cor do sangue que jorra.
Seja qual for o medo que você tenha, lembre que os homens não tem que se meter nisso a não ser que seja pra apoiar você a ser mais feliz e livre.
Assinado: A rapariga mais sem TPM da cidade.
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