quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

EMBORA EU ACHE HORROROSOS OS MOSAICOS DE ESPELHO.

Não vivo de arte... sobrevivo e não me queixo, me deixo viver. Na escola de artes tive colegas e professores que riam da minha cara quando eu me apresentava como artista. É que as pessoas pensam que ser artista é algo chique, sei lá... Então lhes parecia uma arrogância o que pra mim parecia natural há anos, tanto que minha DRT é como Diretora de Arte - se bem que nem sei onde anda minha carteira de trabalho.
O problema do artista na nossa geração não é o mundo ao redor, o problema do artista é ter vergonha de ser a despeito da aprovação dos entendidos, é não saber que este eterno não saber já é um passo para ser. Pois o artista é uma pergunta ambulante, começando por ter consciência de que nunca saberemos dizer ao certo o que é arte.
Não dou muito valor pra o que passou na minha história como artista porque emocionante é fazer, depois de feito não vou viver das lembranças de algo que não sinto mais. É como querer repetir o mesmo orgasmo, entende? Não entendo essa mania de provar o que já fez pra todo mundo dizer "Oh!". Não é por algum lindo prêmio que tenha conquistado antes que alguém deveria ver no meu trabalho algo sensível, mas pelo que sou agora, outra.
Também penso que se você esquece e não valoriza tanto o que fez antes, você vai estar sempre recomeçando e daí é como tomar banho depois de uma noitada e ir dormir pra repor as energias.
Entre as poucas certezas que a gente tem, a primeira é que você não aprende, você aprimora. Vi gente nos vários cursos de artes que já fiz, pedindo "pulamor de deus, me ensine a ser um artista". Mas não foi uma instituição que me fez ver como sou. Descobri meus dons e dúvidas fazendo, vivendo, errando, perdendo,
Não vivo de arte, eu sobrevivo e não me queixo, eu me orgulho de viver aprendendo, consciente que vou morrer com mais perguntas que respostas.
Na arte, como em qualquer profissão, você nunca termina os estudos. Me dá faniquito quando alguém diz que está formado. Formado é pronto pra morrer. Me perguntaram uma vez porque eu entrara na escola de artes se eu já me considerava uma artista, seria pelo diploma?
Não, eu queria resolver umas coisas que estavam engavetadas e que eu ficava tentando pesquisar sozinha por orgulho. Daí cresci e vi que se eu fico perdendo tempo vou precisar morrer com 500 anos pra terminar tudo o que comecei, então é mais fácil aproveitar as respostas que alguém já procurou e publicou e outro alguém pode me mostrar em uma aula.
Mas além de tudo, eu gosto de estudar porque eu sou prolixa. Eu sou chata e subjetiva, eu sou daquelas que acha um abuso termos transformado em palavrão o conceito.
Não sei viver de arte. Sobrevivo e ainda não consegui valorizar o espaço oficial da arte no mundo simplesmente porque acho burrice limitar e, em pleno 2015, acho uma vergonha ainda aprisionarem a criação e separarem picho de grafite, entre outras coisas que fazemos para tornar a arte algo digno de pessoas com dedos macios e pálidos.
Meus trabalhos eu mostro como e quando me parece bom e tem vezes que não há muito público e nem divulgo e tanto faz, faço na hora que tinha que fazer e depois passou, foi, saiu.
Não atualizo curriculum, meu portifólio é um caos e eu amo tudo isto onde me perco e as pessoas chegam e querem organizar minha vida, acham que meu estúdio é uma bagunça e querem jogar coisas fora e questionam as micro partículas que lhes parecem lixo com pelos de gatos, enquanto pra mim meu lixo vale mais que um milhão de dinheiros. As minhas coisinhas e ideias inconclusas.
Não vivo de arte, sobrevivo como posso e não me interesso pelo foco.
Pra mim, cada trabalho que fiz, filmes, textos, designs, retratos, instalações, exposições... cada coisa que faço é um membro, uma veia, um calo, um órgão que vai formar um corpo. O trabalho do artista, me parece, não é um evento por ano que você estréia e as pessoas tomam vinho e dizem parabéns como se sua vida criativa fosse um escritório cheio de divisórias. A obra é um conjunto de todas e nunca vai ter fim.
Não aprendi a viver de arte, mas sobrevivo.
Creio que tudo é parte de um projeto só, um mosaico que você reza pra não terminar porque no dia que você terminar, no dia em que estiver pronto, no dia em que você estiver formado, daí você morreu, não tem mais serventia como uma pessoa viva. Aí é morrer, virar adubo e rezar pra que o seu mosaico sirva pra alguma coisa na vida dos que virão.

]biAh weRTher[

Um comentário:

  1. "Não vivo de arte, eu sobrevivo e não me queixo, eu me orgulho de viver aprendendo, consciente que vou morrer com mais perguntas que respostas". Como diria um colunista: faz pensar.

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