sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

POR UM REVEILLON CHUVOSO!

Gosto muito da chuva encontrando o mar, sempre gostei de praia com chuva, pra ler deitada na rede vendo o mar ali a se misturar com o infinito. Nunca vi um quadro monocromático mais bonito. Aqui no RS, no ano novo torço muito pela chuva porque daí estraga as festas nas praias, onde prefeituras irresponsáveis, comerciantes gananciosos e veranistas fúteis praticam toda a sorte de vandalismo.
Os barulhos excessivos de fogos são mortais para as aves silvestres, os carros e multidões ensandecidas esmagam a pouca vegetação natural que resta à beira mar. As toneladas de lixo e porcarias atiradas na cara da coitada da iemanjá - alguém precisa avisar que orixás não são acumuladores - são a maravilha que vai embelezar os balneários gaúchos pelo resto do verão.
O litoral parece até pior do que as grandes cidades quando falamos de gestores corruptos, construções desordenadas, especuladores terroristas.
E a grande piada nisto tudo é que os consumidores de caixas de vidro em condomínios sentem orgulho de fazer parte do inferno cheio de buzinas, pancadão, cheiro de esgoto e filas imensas pra comprar mantimentos.
No meio da areia-lama, dunas roubadas durante o inverno para construir casas de sal, as moças desfilam os biquínis caros, bronzeado e salto alto e as famílias de classe média fazem carão se esbaldando nas ondas de cocô. Cachorro não pode ir no mar, todos te olham feio e apontam a placa de proibido e as senhoras sebosas fazem cara de nojo. Carros cor de rosa com som horroroso a todo o volume, bitucas de cigarro e latas de cerveja tem passagem livre. É uma festa e da-lhe selfie de pés feios na beira-mar com o comentário irônico: - Tá difícil!
Estou vendo o dia em que vão colocar placa proibindo as poucas e resistentes aves de darem seus lindos rasantes.
Ter uma casa na cidade, uma na serra e outra vazia o ano todo na praia, em pleno 2016, ainda nos parece uma questão de "poder aquisitivo" e não de falta de educação. Mas isso é outra história... agora falemos do verão!
Eu vivia dizendo que paramos nos anos 80 como sociedade. Mas não, mudei de ideia. Estamos mesmo é em 2016, quando a primeira geração de analfabetos funcionais desembarca na meia idade. Salve-se quem puder! Quem governa o barco são os guris de apartamento com medo de lagartixa, com nojo de pobre, com a certeza de que podem quebrar tudo na rua e depois correr pra o seu quarto decorado pela última tendência na Casa Cor.
Eles acreditam que em seu feudo com muro que dá pra Estrada do Mar, que na sua torre que estraga o por do sol, não chegará o fedor. Pensam que moram em bunkers (como dizia o Leonardo Márquez Brawl, estamos no Show de Truman).
É o segundo ano seguido em que passo a virada no silêncio de Porto Alegre porque eu sempre acabo chorando na praia com os absurdos que preciso presenciar, a morte diante dos meus olhos e todos sorrindo de roupa branca.
Com o agravante de que, quando estou no sul no verão, a praia que frequento tem uma reserva ecológica há duas quadras de casa e ninhos de coruja diante do portão, a suportar os fogos e bate estaca há alguns metros.
Parecem todos parte de um filme de zumbis, de um filme futurista, de qualquer ficção que, finalmente, tornou-se realidade.
Viva 2016! Viva a Zumbilândia!
]bw[

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