domingo, 3 de abril de 2016

Quem não tem impeachment caça com bullying.

Claro que não leio a tal revista "ISTO NÃO É jornalismo". 
Foi no blog do Marcelo Rubens Paiva que acabei conhecendo os detalhes do texto abusador, representativo, inclusive, dos xingamentos vazios que vem sendo cuspidos em caixa alta nas ruas digitais e palpáveis sempre que alguém tenta um debate sóbrio.
Uma cliente minha, causalmente psicóloga, me dizia faceira quando a Dilma ganhou e os eleitores do Aécio começaram a prometer golpe: - Foda-se! A dialética morreu!!!
Nessas horas a gente fica em silêncio porque você não tem como entregar um dicionário pra pessoa sem levar uma porrada. Tudo bem, ela já tinha pago a obra que me comprou (um retrato de grito embaixo d'água) e está lá, no meio da sua sala dialogando com ela de algum modo. Eu acredito!
Voltando à metodologia do caos, após as publicações alegando que a presidenta está louca, se você usar um raciocínio lógico verá que a situação do país é pesada e perigosa, sim. Mas não pelo que dizem as manchetes. O perigo vai além de todos os assuntos disfarçados. Não é a corrupção, não é pedalada das pitangas secas, não é o imposto. O que fere os intolerantes é deixar o outro viver.
O assunto já vinha gritando dentro de nós, mulheres desobedientes, dentro dos negros que querem direito a universidade pública, dentro dos gays... Os gritos alertando para os perigos reais se perdem diante da gritaria geral por mais bolsas de marca e mais passeios à Disney.
Chamar uma mulher de louca é praxe na nossa sociedade, mas isto não é uma brincadeira!
Certa vez, em meu blog, escrevi que há momentos no meu trabalho e na vida pessoal, onde a saída machista recorre tanto ao gaslight que já pensei em levar na mochila um atestado de sanidade para esfregar na cara de cineastas desonestos que me roubaram projetos e foram para reuniões do outro lado do país alegar que sou só uma louca ou a ex-namorados que não foram legais e se defenderam em conversas masculinas alegando que sou apenas uma louca. É que nunca estamos presentes nessas horas pra um diálogo. Não ocorreu ao repórter ligar pra Dilma e perguntar se é verdade que ela anda meio louca? Ok, estou brincando, claro que dar voz a ela não era a ideia.
O que a pseudo revista praticou é comum em cada canto do nosso país e tem toda uma sistemática, não é piada ingênua, não vem assim do nada. Você começa a gerar a malícia e cria a rede de intrigas com temperos picantes de modo que a parte da comunidade que curte uma fofoca não vai se perguntar onde está a fonte. Depois que sai pra rua, é lenda, não precisa provas, só precisa passar adiante.
A proporção desse desvio de caráter da nossa sociedade fica gigantesca quando a vítima é a própria presidenta da república, demonstrando que o nosso país está pra qualquer coisa e é um lugar perigoso de se viver não pelos assaltos. Não há grades nos jardins que nos defendam do abuso moral, emocional e físico que vai destruir gerações.
Não duvidem se amanhã estiverem montando fogueiras pra queimar bruxas na rua.
Daí você, depois do enjoo, percebe que tem um lado muito bom o terrorismo machista que o país vem sofrendo.
Quando tão recorrente modelo de abuso toma uma proporção inacreditável e parte da sociedade consegue não vomitar diante do que fez a pseudo revista alarmista, a gente sabe que não tem como passar despercebido.
Todas as mulheres trabalhadoras, mães, mantenedoras de lares, gerentes de banco, faxineiras, desempregadas, solteiras, casadas, homossexuais, católicas, macumbeiras, ateias e atoas, ao lerem a tal reportagem, vão reconhecer momentos em que sofreram abusos morais, ainda que neguem porque são a mulher do Eduardo Cunha, por exemplo. Você só não passou por isto se ainda não nasceu!
Quando não se tem argumentos contra uma mulher que se mostra forte, dizemos que está louca. Uma mulher sabe o que isso faz com nossas vidas.
Comecei faz horas a sentir mais vergonha que orgulho do nosso atual país. As crianças índias estão mortas. Bolsonaro vive. Um transgênero é morto por dia no país mais transfóbico do planeta. Até o rock'n'roll é tomado por uma maioria de machistas. O holocausto animal é um tema inimaginável diante da queda no poder de compra. O Brasil é o país que mais dá comida envenenada para suas crianças. Senhoras de bem, entre rosários, se riem vingadas vendo a presidenta ser desrespeitada do modo mais sujo em público com acusações sem fonte, diagnosticada como louca porque não conseguiram lhe arrancar do cargo por desonestidade.
É a melhor aula de bullying que um país já deu em uns 50 anos, quiçá 500.
A única saída, neste caso, é as mulheres estarem unidas, não entrando em jogos e tomando vergonha na cara.
Fica dentro de mim sempre uma pergunta... O que pensam as colegas próximas, as filhas, mães e mulheres desses jornalistas e desses congressistas que não respeitam nada nem ninguém em nome de poder e dinheiro? Como vivem as mulheres desses marginais. Elas jantam em Dubai, mas são mais felizes que as esposas dos traficantes ou dos mafiosos? O pecado de Dilma é não ter marido?
Eu que sempre gostei de chorinho, mamãe oxum, literatura, cinema e roque nacional, há uns meses, ando pensando seriamente em sair do país. Muito seriamente...
]bw[

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