segunda-feira, 6 de junho de 2016

A mulher, o homem e o neologismo.

Sou feminista e pago o preço, mas me incomodo quando
alguém me chama de "lutadora". Eu não quero briga, sou pela paz. Quando sofro com o machismo não entendo como uma luta e sim como uma agressão unilateral da qual sou vítima e devo me defender e ser defendida pela justiça, conscientização, uma sociedade com acesso à cultura e educada para a igualdade e não para a guerra.
É uma fronteira translúcida, pode ser uma utopia
e alguém menos sensível pode achar bobagem, mas pra mim é uma diferença brutal.
Ok, eu xingo o Bolsonaro e não consigo evitar o ódio de estupradores e seus defensores; eu sofro de TAG por conta de abusos sofridos por parte de homens com os quais me relacionei ou trabalhei e estes sentimentos tem a ver com guerra e, por isso mesmo, eu preferiria não senti-los. Não os exulto nem me orgulho quando sou bélica porque isto é consequência dos traumas causados por uma sociedade que promove a competição e desigualdade nos relacionamentos.
As palavras são muito importantes pra algumas mulheres, mesmo estando fora de moda a leitura e na moda escrever sobre moda e nada mais.
Então - alguém vai me odiar por isto - também não utilizo a expressão "empoderamento". Poder pra mim pode virar um monstro e o seu derivado, ainda que positivo, pode ser deturpado por uma maioria, como toda a palavra solta numa passeata ou em grupos específicos.
O símbolo da conscientização tem que ser simples, direto. Uma palavra que gere outras e não uma que tente dar um novo sentido ao que massacra: poder.
O novo sentido está nas nossas ações e o título desta novidade deve ser novo.
Poder não tem como ser sinônimo de igualdade, poder
é um palavrão, assim como guerra. Dói até pensar, envergonha até sussurrar porque lembra tudo o que milhões e milhões sofreram e sofrem em nome do vício que alguns tem pelo poder.
Por exemplo, percebo que as mesmas pessoas que adotaram o empoderamento como palavra de ordem não acreditam que exista um homem feminista e eu acho que sim e que as palavras criam uma força de cabo de guerra quando deveriam unir.
Sim, você acha que estou falando de temas pequenos quando há mulheres sendo espancadas bem agora. Me desculpe, não deixo de pensar em tudo o que estamos vivendo, cada uma de nós há séculos e séculos. Apenas não acredito em heróis e heroínas e que um homem não pode querer sinceramente a liberdade de uma mulher.
Mais além, as mesmas pessoas que acreditam que homens não podem ser feministas, defendem o direito das mulheres machistas cometerem as piores ofensas à outras mulheres, gerarem e educarem o pior tipo de homem, porque elas são vítimas cegas que ainda não "desconstruíram" o machismo no qual vivem aprisionadas, coitadas... vítimas defendendo seus algozes, escravizando outras mulheres através de seus filhos que elas criam pra manterem a escravidão.
É como se algumas de nós já começassem a acreditar que sim, o feminismo é o contrário do machismo, quando não é. Como se homens e mulheres estivessem destinados a serem inimigos, quando não estão. É tudo uma questão de cultura, educação e união pela mudança dos sentidos.
Eu não, não perdoo e não vejo nenhum coitadismo em senhoras que batem panelas, em mulheres maldosas tomadas pelo preconceito, em esposas de eduardos cunhas, em escravistas odiadoras da liberdade alheia, em pastoras gritonas, em mulheres que riem e culpam uma menina da periferia estuprada por 33 inimigos.
Há vítimas entre mulheres que não desconstruíram o machismo e há mulheres entre mulheres que são seres humanos desonestos e machistas porque lhes parece conveniente.
Assim como há homens que estão num processo de desconstruir
o machismo porque percebem que não lhes será tirado nada vital se conviverem com a igualdade de gêneros.
E sobre o meu desconforto em utilizar a expressão empoderamento quando falo da consciência de que eu sou digna de respeito e dona do meu corpo e dos meus pensamentos... Não há muito o que explicar, apenas acho um vocábulo pouco feminino e com uma vogal que fecha os lábios num círculo apertado. Expressões abertas me parece que unem mais. Coisas como liberdade, vontade, amizade, igualdade e palavras que ainda não foram inventadas, estarão livres e únicas e não serão derivadas de outras costelas.

]bw[

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