quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O TEMPLO

Tenho escrito tantos textos para o FLõ festival do livre olhar, para o blogue e etc que voltei a sentir dor nas mãos, especialmente o sofrido dedo indicador da mão direita. Mas são belas as minhas mãos, acho eu... Tem dias que fico como as crianças, deitada na rede olhando as mãos contra a luz do sol, movendo os dedos e contanto as linhas. Daí eu toco umas músicas e gravo pequenos vídeos dos dedos tocando as cordas.
Dedos são o ponto final ou início do corpo?
Não sei se meu corpo é tão bonito como eu penso que é.
Muito provavelmente não. Mas só o fato de ele aguentar a vida difícil que levo já o faz meu herói. Não me curvo, ajeito a coluna.
A maior parte do ano o carro que divido com o meu sócio, fica lá em SC. Fico com ele no verão e em julho, apenas. Mas daí fico com as câmeras e lentes a maior parte do tempo, coisas de sociedade entre pessoas que foram casadas e ainda são sócias.
Agora, estamos com um carro zero que tem alguns dias apenas, e eu já vou me despedir, mas fico com as câmeras aqui pra rodar meus trabalhos...
Enfim, ficar tantos meses do ano a pé, com câmeras e projetores e pedaços de cenografia e 30 quilos nas costas pra lá e prá cá não é coisa pra gente fraca. 
Tem dias que dói até a alma e depois ainda olho meu corpo no espelho e quero ele bem, expressivo, falante,
pois ele também é objeto do meu trabalho de arte, retratos nus, espelho dos meus gestos. O levo para massagens e sessões de reiki. Ele agradece e me sorri após o banho de sal grosso com ervas. 
Meus ouvidos gritam. 
Meu quadril tem um defeito de nascença que me ensinou sobre viver com dores eternas que se agravaram com os desrespeitos médicos que sofri durante o parto do meu filho, quando quase fui a óbito e quase me tornei mais um ser etéreo, sem corpo.
Resisto.
Meu corpo é líquido. Quando caminho deixo as ondas e curvas levarem meus movimentos pois detesto ângulos.
Meu corpo é um mini mundo cheio de micro seres vivos com quem preciso conviver e dialogar. 
Sou aquilo que entra em mim, me alimenta e hidrata, forma e cor. Se comer mágoa, serei cinza. Se beber água, serei transparente. Se ingerir pessoas, ficarei doente.
Sou um ecossistema e isso é um milagre.
Meu corpo é a terminação nervosa dos meus sonhos, onde se concretizam, se efetivam ideias que, para muitos, são impossíveis.
O meu corpo é objeto do meu prazer e da minha libertação. Dele emanam redemoinhos, espelhos e pêndulos. Dói e sorri, treme e ressona.

Quando alguém toca meu corpo sem permissão sou um tatu bola, viro bicho, viro náusea, sou ódio, sou tristeza.
Dos meus dedos e pulsos machucados e cheios de marcas da vida artística saem as ondas de energia criativa, respostas e perguntas. 
Do meu umbigo, feixes de luz me conectam com o universo.
Graças ao meu corpo sou única e sou apenas mais uma.
Um beijo
biAhweRTher

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