sábado, 21 de janeiro de 2017

Livre olhar. Liberdade para filmar.

Assisti pela primeira vez "Diavolo in corpo", Marco Bellocchio, 1986.
Imagino que deva ter sido polêmico na época, devido às cenas de sexo verdadeiro entre os protagonistas. 
Pessoalmente, gostaria de rodar uma cena de sexo explícito em um filme que ainda não pude começar a tentar recursos devido ao excesso de projetos atuais. Mas o meu roteiro pede sexo a vera.
Ok, sei que vai dar uma puta incomodação. Até fumar cigarros em cena querem proibir. A ficção no cinema e no teatro, pra alguns desentendedores de arte, não pode buscar a perfeição.
Lembro de assistir algumas entrevistas coletivas do "Antichrist", Lars von Trier, 2009. Certos jornalistas, diante de uma obra impactante como aquela, só conseguiam pensar nos órgãos genitais do elenco, como se nunca tivessem visto antes ou ficassem pelados só de olhos fechados. Chegavam ao cumulo de perguntar à Charlotte Gainsbourg porque havia aceitado fazer cenas reais de sexo. Ela respondia com sua elegância implacável: - Porque o roteiro pedia.
A atriz tem seu corpo como instrumento e o entrega à obra.
O jornalista tem seu ponto de interrogação como ferramenta e o vende para o senso comum. Calma, não estou generalizando. Nem toda a atriz é destemida e nem todo o jornalista é boçal.
Voltando ao Diabo no Corpo, assim como outros filmes não pornográficos onde há cenas reais de sexo - para quem trabalha com elenco pode ser óbvio o que penso - a intimidade dos atores os fez se saírem mais do que bem em todas as demais cenas. A cena de sexo oral é boa justamente porque não tem o apelo obrigatoriamente fake dos filmes pornográficos. Gostei bastante da naturalidade e me parece que foi nesse laboratório que se desenhou todo o resto. 
Só um parêntese. Eu dou spoilers sempre e não peço desculpas porque não vejo cinema como um joguinho de abobadinhos que não querem ter o sustinho atrapalhado. Geralmente, assisto os filmes fora do seu prazo, acho que tem mais graça, então me sinto mais a vontade ainda pra fazer spoiler, já que a maioria das pessoas já viu mesmo.
Enfim, porque cenas de sexo bem filmadas ajudam a performance de um elenco? Ah, isso é óbvio. Se você tirou a roupa no set, as personagens entram mais fácil. E se você transa com o colega de cena (em cena, não estou falando de fofoquinha sobre casos entre colegas de trabalho), você derruba barreiras que precisam não existir para um filme ser bom.
Os laboratórios que vivenciei como elenco e-ou diretora sempre foram ricos de estratagemas para nos sentirmos mais íntimos e, claro, no processo haviam momentos de trabalhos corporais coletivos que operavam milagres. Daí minha teoria de que quando há cenas de sexo, sejam elas reais ou não, os laboratórios para dar veracidade às cenas vão colaborar imensamente para outros momentos, sejam eles de tensão, briga, despedida, reencontro...
Ok, tomara que isso não faça, como sempre, um monte de senhores se assanharem com piadinhas achando que vou querer transar com eles porque falo abertamente sobre sexo no cinema.
E tomara que não pensem que estou querendo criar um modelo de preparação de elenco que envolva sexo. Não é nada disso. Cada filme é um filme. Estou apenas refletindo sobre o fato de, em pleno 2017, ainda fingirmos que sexo não existe e ficarmos no "ai meu Deus" quando aparece num filme, porém se o filme for pornô com um sexo agressivo machista e ruim, pode. Daí tantos degenerados, abusadores e cretinos espalhados pela sociedade a fora. No dia em que olharmos com liberdade e naturalidade a vida e a arte e onde elas se cruzam, acho que estaremos adultos enquanto humanidade.
Um beijo
biAhweRTher

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