domingo, 5 de fevereiro de 2017

Violência Obstétrica e os Comícios nos Sepultamentos

Sigo não compreendendo onde está o problema de o enterro de Dona Marisa Letícia Lula da Silva ter se configurado um ato político!
Também não entendo o que se passa com parte da classe médica brasileira, esquecida do seu compromisso.
Na verdade há anos eu não entendo nada sobre certos médicos.
Quando meu filho nasceu, meu médico estava de férias. Aconteceram tantos erros médicos que eu fiquei em coma e precisei de duas transfusões de sangue e meu pequeno corpo que, com 9 meses de gravidez tinha apenas 56 quilos, se transformou num pano de chão dos médicos. 
Meu filho era o bebê mais quietinho do berçário e eu sempre pensei que era porque ele estava preocupado comigo. 
Depois de tudo erraram de novo, ministrando uma droga da qual sou alérgica. Eu queria morrer, eu queria matar, eu chorava de dor em todos os ossos e músculos, eu queria viver e queria um milagre. Minha família foi até a direção do hospital, o médico que quase me matou sumiu da nossa vista e nem uma repreensão levou, a médica que deu início à sequência de erros nunca mais vimos no hospital. 
Eu era um trapo, minha mãe chorava, meu pai sofria, meu marido tinha apenas 22 anos e tentava ser adulto e ficava do meu lado enquanto eu não acordava nunca. 
Naquela semana quente de janeiro eles erraram com muitas mulheres, uma delas teve que voltar para a sala de cirurgia pois esqueceram um pedaço de trapo dentro dela.
Eu fiquei com sequelas pra sempre. Fizeram uns procedimentos que a pessoa pula em cima de você, meu estômago, meu peito, tudo doeu por meses e meus músculos tiveram fibromialgia por uns anos. 
Nos primeiros tempos, eu não podia caminhar. Eu pedia pro meu marido me virar na cama pois nem isso eu podia fazer sozinha. E ele trazia o bebê pra eu amamentar deitada e ele trocava as fraldas pois eu não podia. Eu era um nada.
Por dois anos eu não podia passar na frente do hospital pois era muito grande o meu trauma.
Eu sofri tanto e, pra piorar, a maioria das minhas amigas ainda não era mãe, então eu não queria contar o que eu tinha passado pra não assustá~las, pois assim como nós, todas e todos tinham várias fantasias boas sobre o parto. Sobre fazer parto natural, gravar o momento do nascimento em vídeo e fazer de tudo um lindo momento.
Mas a gente não teve nada disto. Quando o André chegou com a câmera, eles apenas disseram: - Você não vai poder filmar nem entrar pois tivemos problemas e vai ser um parto muito difícil.
E foi, como uma morte. E eu quando voltei a entender sobre quem eu era, fiz comícios rastejando no hospital. Queria fugir, e queria que alguém trouxesse aqueles monstros pra me explicarem porque tentaram me matar. 
Não sei se quando eu morrer vai ser mais uma vez por erros médicos, coisa que se vê todos os dias. Posso ter sorte e morrer tranquila e velhinha, dormindo na minha cama.
Mas seja isto ou aquilo, quando eu morrer eu quero um comício, um ato político, a leitura dos textos mais radicais sobre liberdade e sobre compromisso e ética.
Que todos os enterros sejam um ato político. Que todos os mortos se vão desta dimensão como pessoas que souberam o que é política e sejam lembrados por isto nas suas despedidas. 
Tendo médicos ou monstros a me cuidar no meu final de vida, o que me interessa é que eu faça por merecer uma despedida assim, transformada em comício!

Um beijo
biAhweRTher

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