segunda-feira, 3 de julho de 2017

Noventa e Poucos.

O Cristiano estava há tempos esperando eu digitalizar alguns materiais que ilustrassem uma entrevista sobre os tempos em que convivi com o Flávio Basso. Tomei vergonha (ou coragem) e encarei de frente meus vinte e poucos. É que sou de viver intensamente a hora exata e virar as páginas sem culpa. Tenho essa mania de achar um saco essas pessoas que vivem de lembranças... Sou fascinada pelo presente. Contudo, surpresa, quando a gente fez coisas incríveis pode ser muito divertido fuçar nas memórias.
Caixas, caixas, caixas e caixas num quarto que existe aqui em meu lar estúdio. Um aposento mais reverenciado do que organizado, onde você abre a porta solenemente caso seja convidado... Quantas coisas fizemos cedo demais, a ponto de alguns já terem morrido, cedo demais.
A princípio eu procurava só pelo Júpiter no Megazine, mas sendo que estou desenhando meu novo site e blábláblá, não apenas ressuscitei materiais para o meu filme, O Garoto de Júpiter, como fui submergindo em dezenas de outros nomes, rostos, momentos, motivações.
Lembrei que por um tempo tivemos um jornal mensal, um tabloide intitulado Megafolha, prova viva, juntamente com alguns flyers, de que naquela casa em surto toda a cena bebia, vendia demos e zines, fazia poquet shows, cineclubes, happenings, exposições, discursos e até um sexo rapidinho no banheiro da produtora, que ficava no andar de cima. 
Creio que não sabíamos bem o que estávamos fazendo. Na verdade, tínhamos uma casa anárquica onde podíamos mostrar nossas invenções e receber outros jovens artistas que também faziam o que bem quisessem. 
Em resumo, o Megazine foi uma viagem de apenas dois anos que valeram 20 e ninguém que tenha hoje 20 sabe do que se trata até porque, como eu disse no começo, costumo virar as páginas e não ficar remoendo o passado.
Neste final de semana arregaçamos as mangas e começamos as digitalizar aquele planeta inteiro. Estremeço. Parte da nossa história, cerca de 200, 300 artistas da minha geração ou já mais velhos na época, passavam por uma porta que eu mesma pintara como quem constrói uma casa na árvore.
Eu pensava que era só uma brincadeira, hoje percebo que era um eixo do modo de vida nos anos 90; um gosto que nunca mais vivenciaremos e precisa sair dos meu enorme armário pra respirar. 
Aquela festa meio grunge, meio psicodélica. embalada pela MTV, foi mais relevante do que eu, uma das jovens anfitriãs de Porto Alegre naqueles dias, imaginara. Hoje diríamos que era "tendência" pessoas muito jovens administrarem espaços onde outros jovens podiam entrar e fazer o que bem entendessem enquanto os vizinhos chamavam a polícia. Hoje, aquela bagunça juvenil até as 6 da manhã, seria impossível na cidade do Júnior.
E nesta lida da recuperação da memória, o primeiro material que resolvi publicar se trata de um texto que André Arieta, aos 23 anos e pai do meu filho, à época com apenas dois, escreveu para o Megafolha, sobre a morte de Kurt Cobain. 
Até onde me recordo, o Megazine existiu entre 1995 e 1997, quando fechamos as portas pois tínhamos resolvido passar a fazer só filmes - película, por favor! Super8. 16mm, 35mm - mas essa história é por conta do Cinema8ito.
O texto nesta imagem do nosso jornalzinho foi escrito pelo André em 1994, quando da morte de Kurt, o que pode significar que foi uma publicação tardia ou que, distraída, estou errando em um ano o período em que existiu o Megazine. Mas isso pouco importa por enquanto. 
Leiam, é bonito.
biAhweRTher

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