quarta-feira, 3 de junho de 2015

Claustra

Ando maloqueira.
Apraz-me a deselegância. Desconexões, cabelos desfeitos... Suor.
Saturam-me nossos beiços em bico e as biografias sagradas,
bem como me cansam os esnobes, as fontes fininhas descrevendo os sagrados, os ícones, pretensos.
Eu curto até o Skank e o Buchecha, já to quase ali de pular com a Ivete sem galo. Acho meio morno o minimalismo, por demais clin a postura tão clean. Azulejo do lavabo, corredor de hospital, língua no céu da boca.
Desprezo a necessidade de ser uma moça ABNT bem branca a prometer que sou desinfectada e que dissertei sobre a nata mais pura da filosofia onde pairam os nomes mais cheios de consoantes e que, agora, após longa caminhada bem amparada pelo berço intelectual, estou sóbria como sóbrias ficam todas as descentes quando passa a fase de rebeldia e você se reinventa, pura a navegar no vestido de seda marcando a cintura. Mas que falácia é essa?
Não posso com a hipótese de sair dizendo que fui até a Índia pra ser uma mulher melhor e agora medito e pratico o sexo tântrico, e sou chique, muiiito chique em minha simplicidade dócil performática que vai até o meu passaporte e passa pelo meu sapato incomum. Pois é necessário que eu seja incomum, um primor, o requinte. Lenta mente.
Não me apetece rezar que meu apartamento tem fotos assinadas do cara pálido que expôs na bienal de São Paulo e que bebi o chai com o moço daquela banda de camisa vintage que faz sucesso em Portugal e tem muitos fãs que estudaram francês, de chapéu em Ipanema e,ah, sim!, que fiz balé quando tinha cinco anos e, claro, todos exultavam meu dom para o piano e eu era do coral.
Não tenho paciência de comprar um vestido com sapatinho forrado para o casamento de uma parenta que vai sorrir ao me ver doce, finalmente dulce, castra, catra.
Eu quero os maloqueiros, eu rasguei o meu dinheiro, eu morri pra meio mundo,
eu quero a quentura da vida, viandas e bolinhos de chuva cheios de açúcar com muito café. Mas não podem ser grãos nobres, não podem ser os nobres. Eu só preciso de uns cobres pra ir até ali e pegar carona pra o sol. Ficar da cor do sol, abrir a boca e bocejar num barulho proibido, dançar aos sons barulhentos, macumbas e remelexos. E corpos de verdade.
Pouco se me dá, entende?
Pouco se me dá. Eu regozijo a vida real, quisera poder entender os índios, os meninos, os velhos fedorentos. Me agarro com os cachorros de rua e converso com eles. Já quase entendo o idioma das vacas e desejo muito morrer e renascer macaca que é, pra mim, uma sagrada evolução. Depois eu seria uma aranha, uma larva e, no final das vidas, nasceria uma abelha.

É que ando me alvoroçando com a verdade.
Porque, na verdade, ninguém é limpo, ninguém é sublime, ninguém é mais, ninguém é brilhante, ninguém é porra nenhuma.

]bw[

2 comentários:

  1. “Ninguém se importa.”
    Mas tô contigo; tirando o "banho de sol" e outras coisas bucólicas.

    —☠

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    1. Na verdade nao é bem de banho de sol que tou falando. Mas entendi. Bá, adoro bucolismos... bjs

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