domingo, 7 de junho de 2015

Ficha Cadastral

Desde pequena faço um exercício que tem dado super certo no sentido de conseguir olhar as pessoas ao meu redor com confiança e ter essa facilidade que eu tenho e consegui ensinar pro meu filho, de abraçar as pessoas com todo o corpo, sentindo elas, e dizer eu te amo com todo o gosto ou me afastar porque é preciso.
Eu aprendi, nem sei com quem, a nunca, nunca mesmo, perguntar quando conheço as pessoas, coisas como de onde elas são, que idade elas tem, se se consideram negras ou brancas, se tem alguma religião, se foram à faculdade, quanto ganham, qual seu gênero.. Sabe todas essas coisas que as fichas de emprego e inscrições em concursos perguntam? Pois é, desdenho todas, embora veja que há uma regra nos relacionamentos que obriga a todos, "por segurança", a quererem saber estes itens a respeito de amigos, vizinhos, conhecidos, amores..
Me parece que assim, deste modo, sem ter curiosidade em saber se a pessoa tem 20 ou 40 anos, se ela é ateia, se é cristã, se é alemã, eu posso saber o que importa nela.
Minha curiosidade é mais por coisas como o tom da voz, os gestos, os tiques, a flor que mais gosta, cheiro - eu adoro cheirar as pessoas -, como se sente num dia de sol, se gosta de um bom banho de chuva, quais suas bandas prediletas, a comida, o que pensa das crianças que morrem de fome e dos homens que caçam animais.
Sinto que, ao saber antes de mais nada o que a pessoa sente e não o que aparenta ou representa me faz conhecê-la de fato e daí, talvez um dia, por acaso, eu descubra sua idade ou saiba que nasceu na mesma cidade que um cara famoso ou que, ela mesma, é famosa e que já visitou a Islândia. Só que daí eu já a conhecerei e todas estas representações superficiais que nos separam em castas, linhagens, turmas, tribos e gerações e teimamos em transformar em ficha de cadastro ao conhecer as pessoas, já não farão diferença nenhuma, porque eu saberei quem é aquela pessoa e daí, perdidamente apaixonada ou louca pra me afastar, entenderei que sabê-la católica ou velha ou rica, de fato, não faz qualquer diferença, pois esses não são valores reais.
Não creio que, antes de tudo o que podemos ser neste enorme planeta louco, precisemos forjar um mural onde ficarão expostos o diploma, o sobrenome do pai e o saldo da conta bancária. Não, acho que podemos ser muito mais leves e livres do que isto.
E assim, por ter esta mania de não querer saber quem você é por fora antes de alcançar o ritmo do oxigênio que entra e sai do teu pulmão, quando eu digo eu te amo ou esqueço que tu existe, isto sai como um suspiro, porque é bom falar e demonstrar os sentimentos por motivos absolutamente animais. O resto são bobagens que andam colocando na tua cabeça.

]bw[

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