quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A cultura do estupro

Estive lendo tuites nojentos de homens de 40 anos sobre uma menina de 12 que participa de um desses mil programas de culinária que infestam os canais a cabo. Os infelizes se acham machos ruminando o quanto os excita a ideia de transar com uma criança e só espero que suas mães morram de vergonha e náusea por terem criado tais lixos.
Em meu blog já postei alguns textos sobre como foi ser uma menina de 12, 13, 15, 18, anos e depois uma mulher diante de uma sociedade que se orgulha do estupro confundindo os valores, se machucando, humilhando e sangrando as suas filhas e mães.
Meninas como eu, muito próximas de mim, sofreram estupro e eu as vi, olhos parados, cabisbaixas, no hospital... Escapei da agressão direta por pouco, por ter pernas rápidas, cérebro ligeiro, por ser desconfiada ...
Mas passei a vida tentando ser forte, a enfrentar toda a sorte de trauma na relação doentia que nosso país tem com suas mulheres. Se tu não aceita ganhar menos que um cara que faz a mesma coisa, se tu não aceita um namorado cretino, se tu não quer transar sem ter vontade, se tu não quer se vestir pra agradar um imbecil, se tu faz a música e não é a fã, se tu não é a mulherzinha na parte das mulherzinhas no churrasco da firma, se tu manda a sociedade se foder vão dizer que tá na TPM, que é mal comida, que é louca.
Mas bem, dentre as guerras que enfrentei sozinha diante da sociedade do pau está, inclusive, a agressão obstétrica, um dos traumas mais terríveis na vida de uma mulher num país como o Brasil que se diz livre porque não usamos burca - me pergunto porque a obrigação do biquíni enfiado na bunda é menos escravidão do que uma burca.
Então amores, não me venham pedir que seja menos garota enxaqueca. Eu sou uma mulher livre tentando ter paz neste planeta, neste país onde moças de classe média que vivem para agradar um homem coxinha de tênis comprado em free shop se acham mulheres melhores que funqueiras que sustentam filhos sozinhas desde os 13 anos de idade porque foram abandonadas grávidas. Um país catador de moedas e chupador de paus gringos. O paraíso do turismo sexual.
De verdade - e penso isto todo santo dia quando enfrento a vida sem me vender -, o Brasil é um país racista, machista, xenófobo, homofóbico.
Nosso país fede a estupro, fede a sangue seco. Nosso país se orgulha de viver contabilizando os centímetros de um pênis.
Assinado: A rapariga mais enojada da cidade.

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