terça-feira, 4 de outubro de 2016

GASES BOVINOS E O EFEITO ESTUFA.

Vários amigos, assim como eu, na fatídica noite do domingo das eleições, desabafaram a auto-crítica, óbvia conclusão de que somos um povo servil, moralista, consumista e apaixonados por essa situação de adoradores de uma casa grande que nos atira seus restos.
Passadas as horas, ânimos menos exaltados (a gente se acomoda e nos adaptamos rápido), estou lendo verdadeiros desagravos.
Especialmente aqueles diretamente envolvidos com educação, passaram a analisar a situação política do país por um viés, talvez, mais vitimista... me desculpem.
A lógica que vai se moldando é a de que estaríamos, ao sair do sério com a vergonha nas urnas, culpando o povo e a esquerda e esquecendo de culpar os tentáculos do #Golpe, a malícia dos senhores poderosos, a podridão nos castelos...
Fico em dúvida sobre isentar a todos nós. O povo brasileiro já saiu dos limites da fome e a escola estava a cada ano mais inclusiva. Ao longo do governo Lula/Dilma, as pessoas começaram a "consumir" e fizemos festa para esse fenômeno que, aliás, irritou muito a cultura das castas. Lembram dos episódios de repulsa porque os antes descamisados agora desfilavam em aeroportos?
O que acontece, a meu ver, é que seja rico, seja pobre, o país tem síndrome de dona Florinda. Quando nos apresentaram possibilidades, logo pensamos em ter um carro, nunca investimento pessoal em cultura - só pra dar um exemplo.
De minha parte, essa era uma das minhas náuseas em relação às gestões do PT no planalto. Me parecia que o "poder de compra" era mais importante do que eliminarmos o poder das construtoras, as propinas, a morte do povo índio em nome da monocultura e do desmatamento... O que importava era baixar os impostos para as pessoas comprarem geladeiras e carros (o Brasil é apaixonado por carros, lembram?). Não perceberam que esse marketing era um tiro no pé?
Não acho que é culpa do PT, claro, pois desde os portugueses e dos jesuítas, o Brasil se mostrou um país ingênuo que se deslumbra com coisinhas, espelhinhos e celulares.
Simplicidade, em países progressistas, é ouro, aqui é uma vergonha. Ricos, médios ou pobres, somos essencialmente "consumidores" e não vemos nenhum problema em nos reduzirmos a isso. Somos caipiras que não valorizam o que há de bonito na caipirisse. Ainda estamos na fase de nos deslumbrarmos com as luzes da cidade e quando as pessoas perceberam que para ser um país sério, teríamos que ser menos consumistas, fizemos birra e nos jogamos no chão do super mercado.
A gente elege playboys e senhoras de laquê por livre escolha. Eles não vão dividir o brioche conosco, mas ao menos podemos adorar o inalcançável.
Se Lula é como nós mortais, ele só pode ter roubado os pedalinhos, porque nossos filhos não tem que ter pedalinhos.
Se Marcela é loira e Temer é "Maçom" (brasileiro tem tesão pela maçonaria mesmo não sabendo o que é isso), ela e ele tem o direito de ocupar a presidência e devolver a ela os ares de castelo e não queremos nem saber se eles são investigados por milhões e trilhões de pedalinhos escondidos no exterior.
Nós sabemos que os eleitos moralistas e fascistas são cretinos e que posamos de idiotas, mas não estamos nem aí.
O guri pobre e o guri rico querem a mesma coisa: um tênis bem caro, um carro bem caro, uma mulher peituda. A diferença é que um, sem pai, rouba ele mesmo, o outro espera o pai articular um roubo numa sala atapetada.
Eu sei, você vai citar a força do povo da caatinga e dos imigrantes como exemplo de força. Mas essa qualidade já não é da maioria há décadas. Compramos roupas e celulares costuradas por escravos e estamos felizes assim porque nos parece moderno.
Não consigo dividir o povo e achar que a direita domina sozinha.
A esquerda deu poder à direita porque é tudo a mesma coisa.
Não há esquerda ou direita, há ladrões sendo eleitos porque sofremos de uma mania de banalizar nossa existência.
Somos aquele escravo que festeja o nascimento do bebê da sinhazinha.
Um beijo.
biAhweRTher

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