sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Sobre dividir processos criativos com homens.

Passei a vida entre uma maioria de meninos. Nas bandas que toquei, era só eu entre garotos. Nos meus filmes, uma maioria de rapazes. Nas empresas onde trabalhei (sim, eu também, antes de me aceitar artista, fui escravinha de senhores cretinos) e até na minha primeira faculdade, Administração. E fui uma coisa horrorosa quando era casada: a mulher por detrás da obra do homem. Coisa que muitas garotas ainda fazem, infelizmente.
Havia uma tensão, uma necessidade de provar o tempo todo, uma ansiedade, uma apneia, menos direito à voz, várias situações de assédio. Houveram centenas de episódios onde eu sabia que estava sendo excluída de situações, como numa confraria de paus, embora eu fizesse parte ativa (muitas vezes a mais ativa pois mulheres sabidamente são produtoras dedicadíssimas) desse ou daquele grupo de trabalho. 
Era difícil trazer a baila sensações de desconforto porque, não raro, alguém desprezava, outro me chamava de paranóica e sempre terminávamos na melhor saída desmobilizadora e desmotivadora que os homens encontram: "Está na TPM?"
Faz pouco que me entreguei primeiramente ao que é meu - artisticamente falando -, aos meus desejos e sonhos antes dos sonhos e desejos dos outros. 
Tenho buscado equipes de mulheres e gays. Não é por acaso, é opção. 
Há em mim uma escolha de trabalhar com poucos homens, até porque eles trazem certos preços que já não me sinto disposta a pagar. Em geral, tem mais preguiça de escutar e acham chatas as contextualizações e os processos que fogem de modelos pré-prontos. São mais arrogantes, se enrolam mais pra se entregar com amor a um projeto. Não digo que não consigam, mas é preciso ter paciência com eles até que relaxem. 
No mais das vezes, tem um vício de duvidar de metodologias orientadas por mulheres, tentam modificar o que já foi decidido num ímpeto competitivo que, muitas vezes, nem percebem, é inerente à sua educação; sentem dificuldade de serem dirigidos por mulheres sem antes desconfiarem. Relutam a entregar-se e isto trunca os processos e atrapalha substancialmente a circulação das energias.
Apesar de terem esses vícios, inconsciente coletivo, cultura de superioridade, aceito homens nas minhas equipes pois acho muito positiva a diversidade, acho necessária. 
Contudo, neste momento, estou preferindo que sejam minoria os homens nos meus ambientes de trabalho porque perde-se tempo demais preparando a recepção aos carinhas, sabendo-se que a maioria chega com uma certa altivez desnecessária, em posição de defesa, pouco a vontade; menos propensos a relaxar e gozar do trabalho coletivo; mais disponíveis a serem o centro em lugar de simplesmente parte e eu, nesta fase da vida, já não me sinto obrigada.
Um beijo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário