terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Hey pessoas, o meu livro Moscas Volantes, finalmente vai sair da internet e dos meus rabiscos amassados na gaveta das calcinhas e vai ganhar. em 2017, bem no meio do FLõ festival do livre olhar, uma sessão de autógrafos. O processo criativo, claro, vocês vão acompanhar - alguns já o fazem - alguns dos rascunhos no meu blog. Acho que já tenho uma revisora, mas antes eu mesma vou revisar os contos já publicados e os que escrevi a mão ou na máquina de escrever (sim, às vezes uso isso). Aqui vai um dos contos, ainda no rascunho porque não me importo de mostrar meus erros.
http://biahwerther.blogspot.com.br/p/moscas-volantes.html
>>>Moscas Volantes e O conto dos anjos
E Rita seguiu seu caminho errante.
Morreu, nasceu, coloriu as crinas dos cavalos, rasgou as bandeiras, visitou um cemitério no interior do Uruguai, descansou nas armadilhas e desembarcou, finalmente, em 2015.
O mundo estava outro, o mundo estava louco! Choviam navalhas e, à noite, todos bebiam drinques feitos de olhos, línguas e bílis e riam e babavam e rezavam e clamavam, inquietos e barulhentos.
Arranjou um emprego! Regadora de campos minados e cuidadora da fogueira nos arredores da cidade. Lá se apaixonou pelo rapaz que consertava as minas e guardava segredos. De Rita, ele soube tudo. Sorriso encantador e olhares com luzinhas dentro, nas longas tarde do campo minado, ele perguntava e perguntava, se deleitava com as respostas mas de si nada revelava.
Nas noites de sábado, ela ficava só, mantinha o fogo sempre aceso, tinha medo. Escutava os fantasmas do passado e jantava suas dúvidas, brindando com os besouros.
Naquele ano, muito se falou em Deus e o namorado de Rita falava também. Mentia e orava a Deus, egoísta citava Deus, faltava e chamava Deus, se esquecia e esperava por Deus.
Num certo final de semana, Rita se distraiu. Esqueceu de manter acesa a fogueira. Resolvida a voltar para os caminhos do tempo, levou apenas o cantil com o que restara da água no regador. Deixou secarem as minas. Asas no deserto.
Na segunda feira, quando chegou no campo de trabalho para fazer a manutenção das minas, ele a procurou no silêncio. Ao lado de uma fogueirinha apagada, apenas os besouros a lhe entregar um bilhete que dizia:
“Meu amor.
Se aceito que você me engane, se finjo que não sei, não é porque sou tola, mas para não constranger suas escolhas. Se permito que me use para alimentar suas tardes tristes nesse campo minado cinza para, longe de mim, exibir como troféus as violetas que colheu das minhas veias, não é porque sou ingênua. Apenas me parece uma troca justa! Você me dá suas esmolas e eu lhe dou os sonhos que me sobram e nem tenho onde guardar, pois sigo sem parada, sempre a procurar.
Se deixo que encare a mim como um parêntese, um hiato, o dia de folga do que realmente importa na sua existência pálida é apenas porque me basta ser o espelho, o seu lado inverso, o ponto que renega, o que você mais oculta, o nervo, a parte que te envergonha. Sou aquilo que você nunca conseguirá resgatar do porão, aquela que você guarda no sótão e, pra te agradar, consegue caminhar sem tocar o solo, sem fazer barulho no piso, sem deixar pegadas no chão. Porque eu flutuo e, sendo assim, me vou.
Fui os teus cinco minutos, você a lâmina afiada. Sou o teu segredo, você foi tudo, mas agora que matei suas minas... agora você é nada.
Adeus. Rita de Cássia”

biAhweRTher

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